Muitos brasileiros anônimos viraram grandes personalidades do conteúdo +18 e dizem faturar até R$ 200 mil por mês. O g1 conversou com quatro produtores que falam sobre os desafios da profissão.
Óculos Juliet, camiseta regata colada e corrente prata no pescoço. É assim que Bruno ZL, de 23 anos. Para o jovem, o look mostra quem ele realmente é: "representa os meninos da periferia, de onde eu vim, a Vila Ema, na Zona Leste de São Paulo" — por isso o ZL no nome, aliás.
Bruno ZL (Novinho Da ZL), Beatriz Miuky e Gabriel Coimbra são produtores de conteúdo +18 Foto: Arquivo pessoal |
É com esse estilo "marrentinho" que Bruno, ou "Novinho Da ZL", grava seus vídeos eróticos. Considerado um dos maiores influencers +18 do país, o jovem é um dos muitos brasileiros que recorreram à venda de conteúdo adulto para ganhar dinheiro.
A pandemia de Covid-19 e a disseminação de plataformas especializadas —
como OnlyFans e Privacy — aumentaram a profissionalização da venda
on-line de nudes, que hoje rende dezenas de milhares de reais todos os
meses a alguns produtores. Ainda assim, esse não é um ramo para todo mundo.
Como todos os criadores, os de conteúdo adulto também estão expostos a
todo tipo de crítica, ainda que este seja um segmento supostamente mais
liberal. Bruno, por exemplo, não se livrou de estereótipos e de
preconceitos por conta do visual de "lek da ZL":
"Muitos pensam que o cara da quebrada não pode ser passivo no sexo, e eu tento quebrar esse pensamento. Por que eu, cheio de marra, tenho que ser só ativo? Curiosamente, os meus vídeos sendo passivo são os que mais bombam porque mexem com o imaginário de quem assiste", conta Bruno.
Bruno ZL é um dos principais criadores de conteúdo adulto no universo
gay. Só nas redes sociais convencionais, ele tem mais de 1 milhão de
seguidores — no X (ex-Twitter), onde compartilha prévias de seu trabalho
(conteúdo explícito), são mais de 970 mil seguidores.
Os primeiros vídeos foram publicados em 2022, por influência de um amigo que já produzia conteúdo +18 no OnlyFans. Em sua decisão, pesou também a demissão de um estágio em direito, no qual recebia R$ 500 por mês.
Esse amigo, que já era conhecido no ramo, começou a repostar os
primeiros vídeos de Bruno e foi aí que ele passou a crescer e a ganhar
seguidores. No começo, a parte difícil foi lidar com os haters
(odiadores). Mas não só isso:
⚠️ Entre homossexuais, os termos ativo e passivo indicam suas preferências na hora do sexo. Em outras palavras, o ativo é quem penetra; o passivo é quem recebe a penetração.
Os profissionais, reforçam que a produção de conteúdo +18 deve ser levada a sério. Existem, inclusive, cuidados tanto contratuais como de saúde (física e mental) que precisam ser constantemente observados.
E, para quem acerta nas estratégias, não só é um trampo, é também algo que pode render muita grana. Os valores recebidos pelos produtores podem chegar a R$ 100 mil por mês, segundo João Finamor, professor de marketing digital da ESPM que acompanha esse mercado de perto.
João Finamor lembra que a pornografia na internet sempre existiu. A diferença, agora, é que os próprios criadores têm autonomia e controle sobre os conteúdos publicados e sobre o dinheiro recebido.
A criadora de conteúdo Beatriz Miuky, de 27 anos, conta que a mãe não apoia a profissão, mas tenta aceitar. "Meu pai não fala comigo desde que eu fui em um programa TV falar sobre isso. Deu o maior bafafá na cidade dele. É complicado. Tem coisas de que a gente precisa abrir mão, mesmo", afirma.
Beatriz, que vive em Balneário Camboriú (SC), é casada com Diego Mineiro, que também ganha dinheiro com pornografia. Entre eles, há regras e estratégias: Miuky, que faz conteúdo para heterossexuais, só se relaciona com mulheres. O marido, que tem o público gay como maioria, só transa com homens.
Os dois entraram no OnlyFans durante a pandemia. Naquele momento, Beatriz já era conhecida por falar sobre viagens na internet. "Eu me encontrei nisso e a minha vida mudou com as plataformas. Eu consegui comprar carro, jet ski, moto, faço as minhas viagens". Ela não revela seus ganhos porque já sofreu ameaças.
Quem também teve a vida transformada foi o baiano Gabriel Coimbra, de
29 anos, que costuma gravar com outros homens. Com a grana que vem do
OnlyFans e do Privacy, ele e o marido abriram uma loja especializada em
coxinhas no centro de São Paulo.
Assim como Bruno ZL, Coimbra é um dos maiores criadores do país para o público gay e cresceu muito rapidamente. "Eu comecei em 2020, depois de ficar no ócio em casa. Passei a estudar sobre esse mundo e pensei em toda uma estratégia".
Ele afirma que conversou com pessoas que já produziam esses conteúdos e
a principal motivação foi o faturamento alto. Hoje, já são mais de 64
mil seguidores no Instagram e quase 1 milhão no X — ambas as redes são
usadas como "vitrine da loja de seus vídeos", como ele define.
Durante a pandemia, muitos anônimos cresceram do dia para a noite no OnlyFans, tendo o site como salvação financeira em um momento desafiador. Só que, agora, quem ganha dinheiro são as pessoas que já têm um público considerável em outras redes sociais, ou seja, quem já é conhecido, explica João Finamor.
Mas isso não é regra. No Paraná, Aline Novak, de 23 anos, começou no Privacy em 2022 e, hoje, somando com outras plataformas, ela diz faturar R$ 200 mil por mês.
"Tem público para todo mundo e é possível crescer. Eu comecei do zero, não era ninguém e, aos poucos, fui crescendo. Hoje, tenho até troféu de R$ 1 milhão em faturamento."
🎥 Como as gravações são feitas? Alguns produzem os vídeos e fotos em casa, mas outros preferem separar as coisas e gravar as cenas eróticas em outro lugar, como motéis. Nesse caso, os criadores que vão se relacionar dividem o valor da diária da locação.
🤝Como funcionam as parcerias entre eles? Rolam as "collabs" (diminutivo de collaboration, que significa colaboração em inglês) e um criador convida outro para gravar as relações sexuais, que serão publicadas nas plataformas de ambos. Além disso, é comum que estrangeiros venham ao Brasil para filmar com profissionais daqui e vice-versa.
🤑 Por que dá muito dinheiro? Além de ter muita gente interessada nesse tipo de material, a maioria dos sites e apps dedicados a isso paga em dólar. Convertendo para o real, alguns produtores conseguem faturar alto, já que a moeda americana é mais valorizada. As plataformas também ficam com uma parte desse dinheiro: no OnlyFans, por exemplo, os criadores ficam com 80% dos valores, e o site com 20%.
🤔 E quanto eles recebem? Por questão de segurança, nem todos os criadores gostam de compartilhar valores publicamente. Mas, em média, eles dizem que é possível tirar de R$ 20 a 50 mil por mês. Esse valor pode chegar a R$ 100 mil, de acordo com João Finamor, da ESPM. Só no Pornhub, tem gente ganhando US$ 200 mil ao mês, revelou um dos profissionais
.
☘️ Todos ganham bem? Não, a grande maioria das pessoas que tentam entrar no mercado +18 acaba não conseguindo monetizar o conteúdo - ou pelo menos não a ponto de os valores virarem sustento (leia mais abaixo).
👨💻 Quais plataformas são usadas? Segundo eles, o Onlyfans, que paga em dólar, continua sendo a mais rentável, mas o Privacy tem compensado bastante também, mesmo pagando em real. Além dessas, 4MyFans, OnNowPlay, ManyVids e até mesmo o Telegram e o Reddit são usados.
🗣️ Por que eles usam o X (antigo Twitter) como vitrine? Muitos publicam vídeos ali como forma de "degustação" e o post está sempre acompanhado de links para as plataformas +18, WhatsApp ou Telegram. Se o cliente se interessar, ele, então, assina. Alguns também usam o Instagram e o TikTok, mas o X continua sendo a principal e a que mais ajuda a faturar, isso porque ela é a única mídia social com brecha para postagem de fotos e vídeos eróticos.
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