Mergulhar 4 mil metros nas profundezas do oceano para ver os restos do Titanic com seus próprios olhos é algo que poucos fizeram.
A possibilidade de fazê-lo no submersível Titan seduziu há dois anos o youtuber e ator mexicano Alan Estrada, do canal de viagens "Alan ao redor do mundo".
O mesmo Titan que Estrada conheceu, porém, provavelmente teve um fim trágico. No domingo (18), o submersível desapareceu, e nesta quinta-feira (22) a Guarda Costeira dos Estados Unidos afirmou que ele pode ter implodido e que todas as cinco pessoas que estavam a bordo estão mortas.
O youtuber disse que, quando embarcou no Titan, tinha pleno conhecimento dos perigos.
"Todas as pessoas que fizeram aquela expedição tinham plena consciência dos riscos que corríamos", disse Estrada à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) antes da notícia da possível implosão e mortes ter sido divulgada.
"Mas nunca me senti inseguro. Eu tinha plena consciência dos riscos e sabia que se algo acontecesse, se houvesse uma falha naquelas profundezas e o submersível implodisse, provavelmente nem perceberíamos."
Ele descobriu as excursões ao Titanic durante a pandemia, quando pensava em maneiras de levar seu canal do YouTube "a outros limites".
Ele fez uma pesquisa, procurou patrocinadores para pagar US$ 125 mil (cerca de R$ 600 mil) — desde então, o preço por passageiro dobrou — e se inscreveu para a viagem no início de 2021.
Sua primeira tentativa em julho de 2021 não teve sucesso. Ele desceu no Titan com outros três passageiros e o piloto Stockton Rush, presidente da empresa OceanGate, criadora deste submersível, mas por problemas técnicos eles tiveram que retornar à superfície logo após o início da viagem.
Um ano depois, ele navegou com outra tripulação e passageiros, desta vez com sucesso.
Mas antes de conseguir, ele teve que assinar um documento em que se responsabilizava pelos perigos de fazer uma viagem em uma embarcação experimental como o submersível Titan no fundo do Oceano Atlântico.
"Você lê com atenção todas as coisas que podem acontecer e nunca se sabe, mas entrar em um avião também é um risco. Parece clichê, mas a vida é um risco. E, no final, para muitos de nós, valeu a pena poder ver esse majestoso naufrágio", diz Estrada.
"É algo muito espetacular por muitos motivos. Saber que tão poucas pessoas estiveram naquelas profundezas, diante daquele naufrágio, sendo o mais famoso do planeta, é algo muito especial. Ter bem na sua frente algo que foi visto tantas vezes em documentários e filmes é muito impressionante."
Como é viajar no Titan
"Não é muito especial. Você fica dentro de uma cápsula, o que é algo impensável para quem tem claustrofobia, mas nada além disso. Algo muito impressionante é o fato de você estar diante daquele naufrágio", diz.
No navio feito de fibra de carbono e titânio não há muito espaço para se movimentar. Ele mede 2,8 metros de largura por 2,5 metros de altura e 6,7 metros de profundidade, e tem oxigênio para 5 pessoas durante 96 horas.
A viagem tem oito horas: são duas horas para descer 4 mil metros, até quatro horas nas profundezas do oceano para encontrar e explorar o Titanic, e mais duas horas para voltar.
Enquanto estava dentro do submersível, Estrada pôde pilotá-lo, algo que é feito com um controle de videogame sem fio.
"Só há comandos para trás, para frente, para cima e para baixo, e você pode virar a embarcação. É muito fácil de manusear. O que é complexo são os sistemas de comunicação e navegação para chegar aos restos do Titanic naquela escuridão", diz ele .
Em sua viagem, ele ainda assistiu a parte de um filme enquanto esperava para chegar ao histórico transatlântico, como mostra um de seus vídeos.
O submersível não pode ser aberto por dentro; só pode ser aberto por equipamento especializado do lado de fora. É por isso que, no caso hipotético de o navio conseguir chegar à superfície, os passageiros não conseguiriam sair dele sem ajuda externa.
"Não há mais nada que eles possam fazer. Apenas esperar para serem resgatados. E acho que eles estarão constantemente tentando recuperar a comunicação", diz Estrada.
'Brinquedo de ricos' ou investigação científica?
Estrada
diz saber que estes tipos de viagens são "bastante polêmicas" devido ao
montante de dinheiro gasto por quem vai passear ao fundo do mar.
“Algumas pessoas veem o fato de levar turistas como algo muito superficial, como um brinquedo de rico, mas eu também acredito — e vi isso com os cientistas que conheci — que esse é um jeito de explorar as profundezas do oceano, porque é algo muito caro", diz.
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