Em entrevista exclusiva, a cantora e compositora baiana faz um balanço dos últimos 20 anos da carreira e a ressignificação do álbum
Em 7 de maio de 2003, a música brasileira trouxe os
holofotes a uma cantora baiana que destoava da premissa do axé music e
mostrou que Salvador também é terra de rock'n roll.
Agora, Priscilla Novaes Leone, conhecida pelo nome artístico de Pitty, celebra 20 anos do disco Admirável chip novo, que a tornou conhecida nacionalmente. Com referência à ficção Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, o álbum aborda a mesma ideia do livro: uma sociedade manipulada pela tecnologia em meio a um cenário distópico.
O disco de estreia de Pitty tinha 11 faixas compostas pela própria autora e apresentou canções que
marcaram uma geração, como Máscara, Teto de Vidro, Equalize e Semana que
vem. Em um cenário onde os homens dominavam a cena cultural, ainda mais
no rock brasileiro, Pitty ganha o destaque merecido. Afinal, quem
passou ileso ao ouvir tantos hits da roqueira nos últimos 20 anos, que
atire a primeira pedra.
A roqueira soteropolitana resgata, sempre que
possível, a força da sua música, mesmo com "as transformações musicais
intensas nesses 20 anos", como a própria cantora afirma, em entrevista
ao Correio. Na conversa, Pitty também fala sobre pesquisas,
experimentações e aprendizados ao longo dessas duas décadas.
"Muita coisa passou e eu fui me aprimorando na arte de compor, sempre tentando evoluir a cada disco em termos de sonoridade, de pesquisa, de experimentação musical, de não se contentar em fazer sempre o mesmo. Essa característica está em meu DNA", contou Pitty.
Para simbolizar esse ciclo de evolução e
ressignificados, Pitty traz a Brasília uma turnê especial de comemoração
aos 20 anos do Admirável chip novo. A capital federal será contemplada
com esse circuito, hoje, durante o festival Rock Popular Brasileiro, que
ocorre no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Além da cantora
baiana, que será a última atração a subir ao palco, o Rock Popular
Brasileira apresentará shows de Marcelo Falcão, Frejat, Humberto
Gessinger e das bandas Charlie Brown Jr. e Biquíni.
"Minha relação com Brasília é muito profunda, porque cultivei um costume de ir aí, independentemente de fazer shows. Em Brasília, eu já discotequei em festas como DJ e também já frequentei alguns eventos", observa Pitty. Sobre as expectativas para a apresentação de hoje à noite, Pitty confessou ainda ter dúvidas de como "simbolizar" o seu retorno a Brasília para celebrar as duas décadas do Admirável chip novo.
Disco de estreia da Pitty, Admirável Chip Novo ganha lançamento em vinil quando completou 10 anos. |
No entanto, a certeza para a artista é a de que o fato de subir ao palco do Rock Popular Brasileiro significará um momento de entrega. "Vou deixar um pedaço da minha alma ali, me conectando com as pessoas que estão de forma verdadeira, não de forma demagógica. É de fato uma celebração e tanta, vai ser massa", reitera.
Cinco perguntas// Pitty
As transformações musicais nesses 20 anos foram intensas. O que você diria para a Pitty de 20 anos atrás?
Eu diria pra Pitty de 20 anos atrás "só vai", porque, é
claro, muita coisa ali e muitas decisões foram tomadas na base da
intuição, do que eu sentia de fato, do que eu achava que eu deveria ser,
porque experiência eu ainda não tinha, mas havia essa intuição e essa
visão de certa forma, de que caminho gostaria de trilhar. Eu não sabia
exatamente as consequências de cada decisão.
Eu só podia imaginar
naquele momento e apostar, que foi o que eu fiz. Muitas apostas nas
coisas que eu intuía e acreditava, e continuo fazendo isso. Então eu
diria: "só vai".
Você compôs as canções do Admirável chip novo em um quartinho com decoração lisérgica nos fundos de sua casa. Como foi o processo de composição à época e como a Pitty de hoje equaliza as ideias para transformá-las em música? Também ocorre em um cantinho com decoração lisérgica?
Na verdade, era o lugar que eu tinha, né? Era minha
opção de comunicação. Eu não tinha outra opção. Eu não tinha outro lugar
pra ir. Eu morava numa casa pequena com os meus pais e quando o meu
irmão nasceu, como só tinha um quarto disponível, ele ficou no quarto e
fui pra esse quartinho dos fundos. E, para mim, foi ótimo.
Pitty, CD original Admirável Chip Novo |
Na verdade, eu não encarei isso de nenhuma forma ruim, foi o espaço que sobrou para mim e transformei aquele lugar no meu lugar, do meu jeito. E, então, não importava muito com tamanho, porque eu estava muito para dentro, nesse processo interno das composições e de colocar isso no papel. Foi ótimo. Hoje, sou muito grata a esse quartinho.
Aconteceu desse jeito e o meu processo de composição
foi mudando ao longo do tempo, obviamente, porque os espaços vão
mudando, o tempo da gente vai mudando. Então, hoje sou mãe, tenho outros
compromissos, na vida, a maternidade, a minha casa, a minha família e
tudo na minha própria saúde física e mental. Então tudo isso se coloca
também na rotina, mas continuo escrevendo aleatoriamente, como sempre
fiz nos diários e era o que já acontecia na época.
Sempre tenho um caderno e caneta como grandes aliados, para pensamentos e sensações. E continuo recorrendo a isso. Mas, hoje, preciso separar um tempo para compor. Então assim, quando for fazer um disco, vou entrar nesse processo de forma consciente, porque dentro da rotina da vida que levo hoje, indo para a estrada todo fim de semana e durante a semana, tendo todas essas funções que falei, preciso separar um momento para isso acontecer.
Com o peso do tempo também tem o peso das canções, como você busca encaixar o significado delas no decorrer da sua carreira?
O que mais me surpreendeu nesse processo de celebração
dos 20 anos do chip novo foi justamente esse aspecto de perceber,
através principalmente do olhar das pessoas, o quanto essas canções
dialogam com agora, talvez até mais do que na época. E isso foi muito
surpreendente. Foi muito interessante de perceber, porque eu nem estava
numa energia de comemorar os 20 anos, mas fui vendo as mensagens e as
pessoas começaram a me escrever sobre as letras e sobre como aquilo
tinha se refletido em determinado comportamento na vida delas, ou de
como essa ou aquela letra se aplica hoje na contemporaneidade. Eu sou
muito grata às pessoas por terem me mostrado isso.
Talvez não tenha
percebido, porque não costumo ficar revisitando as minhas próprias
coisas. E aí me deu vontade de celebrar o fato de que, mesmo que o tempo
tenha passado, essas músicas tenham se mantido atuais e coerentes.
Com repertório cheio de clássicos, Pitty faz um dos shows mais potentes do Lollapalooza Brasil 2023 |
Ainda sobre ressignificados, você pretende alterar a letra de alguma das 11 músicas do disco?
Eu tenho feito isso algumas vezes, de algum tempo pra
cá, inclusive, porque é engraçado, né? As canções e as ideias continuam
atuais, mas a linguagem em alguns aspectos mudou. Hoje, a gente tem
consciência sobre as maneiras de se referir, as formas de falar com o
outro e as expressões que, claro, há 20 anos, a gente não tinha evoluído
nesse aspecto. Então, acho que isso acontece com muitas bandas. Eu,
particularmente na minha obra, sempre tive, mesmo que de forma
intuitiva, uma consciência sobre essa questão de gênero, mas não vou
alterá-las. Elas estão bem hoje, fazem parte da linguagem adequada.
Trazer essa turnê para Brasília tem um peso, ainda mais por ser o começo da turnê, também. Como estão os preparativos e expectativas?
Eu estou muito feliz de ir para Brasília com essa
turnê, eu tenho uma relação massa com a cidade. Acho que já comentei
isso algumas vezes em entrevistas. Eu tenho uma relação com Brasília
muito afetiva, e que começa bem antes da minha carreira solo.
Com repertório cheio de clássicos, Pitty faz um dos shows mais potentes do Lollapalooza Brasil 2023 |
Foi no underground trocando fitas demo na época e, depois, com as bandas de Brasília, com a cena de Brasília, que ali nos anos 1990, com a cena de outros estados, de outras cidades, foi muito importante no underground, no alternativo que foi de onde eu vim, né?
E eu tinha minha banda de hardcore, fazia parte dessa cena do underground e fui para Brasília algumas vezes antes de lançar meu disco solo, para participar de disco do DC, para festivais, enfim. Eu sempre curti muito a cena de Brasília, sempre entendi as bandas e sempre gostei do que via sair desse concreto.
A gente tem grandes bandas na história do rock nacional que são de Brasília, e não à toa, acho que as composições têm muito a ver com o ambiente da cidade. Então estou muito feliz de chegar aí, e muito grata de poder passar por aí com a turnê do chip novo. Vai ser muito significativo para mim.
E aí, o que achou? Aproveite para acompanhar o Portal Vovo GaTu no Twitter [1] [2], Instagram, Facebook, TikTok, Koo App e no Youtube!
Continue acompanhando o Portal Vovo GaTu
para ficar por dentro de outros conteúdos de entretenimento!
--------------------------------------------------------------------------------------
Enfim, gosta do Portal Vovo GaTu😍? Siga-nos nas redes sociais.
Fique por dentro das noticias, e nao perca nada!😄 Contamos consigo!
Herley costa: