Apesar de sua existência relativamente curta, a plataforma de streaming Apple TV+
mostrou que veio para marcar sua presença no mercado com uma estratégia
semelhante à de outros nichos da empresa: foco maior na qualidade que na quantidade.
Com um catálogo bem mais reduzido que a líder do setor, a Netflix, o Apple TV+ tem desenvolvido produtos com altíssima qualidade, ganhando diversos prêmios — inclusive conquistando recentemente o mais desejado dos prêmios do cinema, o Oscar de Melhor Filme.
No mês de março, o streaming lançou mais uma série de alto nível: “WeCrashed”. Baseada no podcast homônimo, a série conta a história real da empresa de coworking
WeWork, que ganhou o mundo baseada nas ideias disruptivas e
megalomaníacas de seu fundador, o imigrante israelense Adam Neumann —
responsável por seu crescimento e ao mesmo tempo quase por sua falência.
Além da produção impecável, fotografia bem elaborada, efeitos visuais
modernos e atrativos, atuações fantásticas de Jared Leto e Anne
Hathaway (interpretando Adam e Rebekah Neumann), e um roteiro
envolvente, a série traz insights superinteressantes e inspiradores para empreendedores e líderes.
Destaco, neste post, algumas ideias especiais da série — e você pode ler sem medo de spoiler, pois não abordarei nenhuma informação que a sinopse e o primeiro episódio não revelariam logo de cara.
Visão apaixonada e inovadora
Para quem conhece bem a história da Apple e já leu a biografia de Steve Jobs,
é impossível não perceber a semelhança entre Neumann e o fundador da
Maçã. Quase que com o mesmo campo de distorção da realidade atribuído a
Jobs, Neumann enxerga sua empresa desde o princípio como algo totalmente
inovador e disruptivo, capaz de mudar o mundo e a maneira como as pessoas trabalham.
É vibrante ver como o personagem da série, inspirado na vida real, apresenta o WeWork como muito mais que um coworking, mas uma comunidade, um estilo de vida, um lugar para trabalhar, se conectar, fazer amigos, sócios e até viver romances. Sua visão apaixonada é tão surreal quanto envolvente, capaz de engajar investidores, colaboradores e clientes.
Vale lembrar aqui a famosa frase entoada por Jobs e por uma das campanhas mais icônicas da Apple:
Ninguém consegue alcançar coisas grandes ou mudanças significativas sem uma visão apaixonada e inovadora. Se você estudar todas as pessoas que construíram algo realmente relevante, perceberá que elas tinham uma visão diferenciada. Para empreender e liderar de maneira bem-sucedida, você precisa ter essa visão.
Persistência e pequenos começos
No primeiro episódio, são apresentadas as diferentes ideias de Neumann que não deram certo: roupas para bebês e um coliving. Rejeitado e até mesmo humilhado em alguns momentos por suas ideias, Neumann não demonstra em nenhum momento uma tendência para desistir — pelo contrário, defende suas ideias com paixão e persistência, sempre buscando alternativas para sobreviver, pagar as contas e achar o caminho para o sucesso.
Seu primeiro escritório foi um quartinho de limpeza, e até mesmo
dinheiro para refeições adequadas lhe faltavam. Mas sua obsessão quase
doentia por vencer e a crença absoluta de que estava no caminho certo, o
movimentaram de maneira criativa para superar os obstáculos.
Não quero aqui romantizar o sucesso e afirmar que qualquer pessoa com um início pequeno, se persistir, montará um negócio de sucesso se tornará um bilionário. É um fato triste e real que as oportunidades podem ser diferentes para pessoas, independentemente de quanto esforço seja empregado. Mas também não podemos ignorar que a persistência nos mantém vivos em direção aos nossos objetivos. Mesmo que, às vezes, as condições possam parecer inadequadas, podemos transpor os obstáculos e alcançar o que acreditamos, não importa o quanto isso represente financeiramente. O sucesso tem diferentes medidas para diferentes pessoas.
Tolerância ao risco
Neumann não demonstra, em nenhum momento, medo de arriscar.
Ele esteve sempre disposto a colocar tudo em jogo para alcançar seu
objetivo. Essas atitudes não são sempre bem aceitas por quem está ao
redor, por vezes causam conflitos e insegurança, mas não intimidam o
empreendedor que avança sem vacilar.
Um dos maiores empreendedores brasileiros, Jorge Paulo Lemann, fala em uma de suas palestras que aprender a como lidar com riscos foi um de seus mais importantes crescimentos profissionais. Não existe crescimento que não envolva risco. O próprio fato de viver, acordar e sair de casa, envolve riscos. Para realizar coisas grandes precisamos aprender a calcular riscos, correr riscos, administrar riscos e, muitas vezes, ser derrotado por eles, mas continuar em direção ao foco estabelecido.
Ninguém vence sozinho
Apesar de sua autoconfiança exagerada e presunção, Neumann sabe que é
impossível vencer sozinho. Além de seu sócio Miguel e da sua esposa, o
empreendedor procurou engajar pessoas em sua visão. Sua capacidade de
vender o sonho conseguiu atrair pessoas até mesmo com salários abaixo do
mercado, mas criou nelas um senso de pertencimento e vitória como time.
Não existe trabalho sem pessoas. São as pessoas que trabalham, produzem, compram, divulgam, indicam e vivenciam as marcas. Sem pessoas dedicadas, é impossível vencer e construir negócios duradouros. Nem sempre os inovadores possuem uma real capacidade de liderar — aliás, Jobs não é considerado um exemplo de liderança por ser complexo e de difícil relacionamento. Mas, nesse caso, a empresa precisa ser construída com pessoas que superem essas brechas e agreguem as pessoas certas, nos lugares certos, para desenvolver-se no longo prazo.
Sonho grande
O já citado Lemann diz:
Esse perfil é logo percebido em Neumann. Ao falar de suas ideias, sempre apresentou como grandes potenciais de crescimento. Quando afirmaram que ele construiria uma empresa de bilhões, ele corrigiu para dizer que seria de trilhões. Ao ser questionado se ele achava que estava criando o próximo Facebook, ele afirmou que não achava, mas que tinha certeza.
Ambição e egocentrismo à parte, sonhar, por enquanto, não paga imposto. Ter sonhos para a vida, construir cenários futuros desafiadores e perseguir essas metas são elementos que nos mantém vivos e nos impulsionam para novas realizações.
Conclusão
Não, eu não sou coach e nem pretendo ser. Mas acredito que
podemos crescer, desenvolver e aprender a ser melhores, transformando
pelo menos o mundo ao nosso redor.
Se você ainda não assistiu a “WeCrashed”, pegue a pipoca e o refrigerante, mas não esqueça também o bloquinho de anotações, aproveitando essa série que, além de excelente entretenimento, traz lições inspiradoras para quem quer empreender e fazer algo diferente em sua vida!
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