Documentário "Pornhub: Sexo Bilionário" promete um mergulho na indústria de pornografia, mas busca apenas vender o Pornhub ao espectador
Em certo ponto de “Pornhub: Sexo Bilionário”, documentário da
Netflix sobre o mais popular site pornô do mundo, um ator pornô afirma:
“Esse modelo (Pornhub) mostrou que os atores sempre estiveram no poder e
que eles podem ditar o querem e o que não querem”.
Documentário "Pornhub: Sexo Bilionário", da Netflix, mergulha na indústria da pornografia e em seus problemas. Crédito: Netflix/Divulgação |
A fala faz sentido
diante de tudo o que foi apresentado pelo filme de Suzanne Hillinger até
aquele ponto e se torna a mensagem do documentário que tem a clara
intenção de tratar o modelo de trabalho do Pornhub como a salvação da
indústria pornográfica.
O filme começa comendo pelas beiradas, traçando paralelos entre os
avanços tecnológicos, principalmente a velocidade de conexão, e o
consumo de pornografia. Quando as conexões se tornaram mais rápidas e os
sites, mais populares, o modelo da indústria, baseado praticamente em
venda de DVDs, se tornou escasso.
O filme faz questão de mostrar que, o
que poderia ser um grande problema acabou virando uma solução, pois
atores e atrizes, ou seja, os protagonistas da indústria, finalmente
poderiam tomar as rédeas do próprio negócio e não se sujeitar a
diretores e produtores em trabalhos com condições ruins ou parceiros de
cena de quem não gostavam.
“Pornhub: Sexo Bilionário” é inteligente ao apresentar esse arco
antes de tentar equilibrar a narrativa. Se aproximando de um texto
jornalístico, o filme dá espaço para o “outro lado” ao tratar as
acusações de que a plataforma permite vídeos de menores de idade e de
estupros, além de outros sem o consentimento das pessoas lá expostas.
Documentário "Pornhub: Sexo Bilionário", da Netflix, mergulha na indústria da pornografia e em seus problemas. Crédito: Netflix/Divulgação |
Esse arco ocupa todo o segundo ato do documentário, com depoimentos de
pessoas que tiveram seus vídeos postados no site sem autorização, falas
de ex-funcionários e de ativistas que acusam o Pornhub inclusive de
tráfico sexual.
É curioso com a acusação de tráfico, a mais fácil de ser combatida,
acaba ganhando mais força na narrativa justamente para ser desconstruída
pela defesa. Como uma espécie de mea culpa, o filme traz os
responsáveis pelo site reconhecendo a dificuldade de se combater o
upload ilegal de conteúdo e mostra os esforços deles na tarefa enquanto
uma narrativa maior se desenvolve.
Documentário "Pornhub: Sexo Bilionário", da Netflix, mergulha na indústria da pornografia e em seus problemas. Crédito: Netflix/Divulgação |
Em determinado momento, surge o argumento de que tudo faz parte de um
plano maior não de combate aos crimes, mas à pornografia, um plano
comandado por conservadores americanos que não se preocupam com os
supostos crimes, mas em combater o sexo.
É justamente quando todo o arco
inicial, apresentando atrizes e atores que se sustentam com esses
vídeos e que conseguiram sua independência justamente com o modelo do
Pornhub, volta a fazer sentido - o público já os conhece e simpatiza com
eles, principalmente com a carismática Gwen Adora e a eloquente Siri
Dahl.
Pornhub: O Sexo Bilionário - Filme 2023 Documentário da Netflix, mergulha na indústria da pornografia e em seus problemas. Crédito: Netflix/Divulgação |
“Pornhub: Sexo Bilionário” logo lida com os problemas do modelo das
plataformas como “inevitáveis” e vende o Pornhub, seu protagonista, como
a “menos pior”, a empresa que pelo menos possui pessoas preocupadas em
combater os problemas. Essa construção vem desde a sequência de
abertura, que ressalta que, apesar de ser uma empresa do ramo da
pornografia, ela é bem convencional, bem sólida, parte de um grupo maior
e muito focada nos negócios.
Ao trazer essa informação logo de cara, o filme parece querer vender
algo ao espectador, convencê-lo previamente de algo que será apresentado
apenas adiante. “Pornhub: Sexo Bilionário” funciona como o produto que
quer ser, mas falha muito ao explorar os problemas que ocorrem na
plataforma, praticamente lavando as mãos, “fazemos o que podemos”.
Documentário "Pornhub: Sexo Bilionário", da Netflix, mergulha na indústria da pornografia e em seus problemas. Crédito: Netflix/Divulgação |
Ao fim, fica a mensagem de “ruim com ela, muito pior sem ela”, principalmente quando o texto informa que aqueles atores e aquelas atrizes independentes que vimos no início do filme tiveram que voltar ao antigo modelo de negócios.
“Pornhub: Sexo Bilionário” é um documentário sobre a indústria e não tem nenhum conteúdo explícito (o que é bom ressaltar aos interessados). A narrativa começa bem, com o filme se esforçando para construir a imagem da Pornhub como um ícone pop, mas se torna cansativa, principalmente quando percebemos suas motivações e as artimanhas usadas pelo texto para mexer com o espectador e levá-lo para o seu lado da história.
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