A Alphabet, empresa dona do Google e do YouTube, divulgou na quinta-feira (2) seus resultados do último trimestre de 2022, período em que aconteceu a Copa do Mundo do Catar. E os números foram negativos, apontando uma crescente crise no mercado de publicidade.
Foi a primeira queda na receita de publicidade da gigante de tecnologia desde o início da pandemia, e a segunda vez que as vendas de anúncios caíram desde que o Google se tornou uma empresa de capital aberto, em 2004.
A
receita de publicidade no quarto trimestre foi de US$ 59 bilhões (R$
303 bilhões), uma queda de 3,6% em relação ao mesmo período de 2021.
Mas o pior resultado foi na plataforma de vídeo do Google. O YouTube registrou o segundo trimestre consecutivo de queda na receita nos três meses até 31 de dezembro, com vendas recuando 7,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 8 bilhões (R$ 41 bilhões). Em toda sua história, o site nunca havia registrado queda.
Péssima notícia para a Fifa
Desde que a Globo abandonou a exclusividade nos jogos da Fifa
(Federação Internacional de Futebol) e revisou os valores dos contratos
para baixo, a organização decidiu apostar no YouTube como plataforma
para as suas transmissões digitais no Brasil.
Os jogos transmitidos no YouTube pelo apresentador e influenciador Casimiro são um sucesso de audiência, mas trazem uma fração do valor que a Globo pagava anteriormente. Como informou em primeira mão o colunista Gabriel Vaquer do Notícias da TV, apenas no ano passado a Globo desembolsou mais de R$ 450 milhões com a Copa do Mundo e teve prejuízo.
O
movimento da Fifa aconteceu depois que players tradicionais, e até
plataformas de streaming como Prime Video, não fecharam os pacotes
digitais oferecidos pela federação, como a Copa do Mundo.
Na avaliação das empresas, o valor dos direitos digitais era alto demais.
Aposta em Casimiro e no YouTube
Para
contornar o problema, a LiveMode, que vende os direitos de transmissão
da Fifa no Brasil, uniu-se a Casimiro e passou a produzir e vender as
transmissões do streamer no YouTube e na Twitch.
A Fifa prospectou que começaria perdendo, mas depois recuperaria o investimento ao despertar o interesse do YouTube e de outras plataformas que pagariam altos valores para ter os direitos no digital.
As transmissões de
Casimiro têm batido recordes de audiência. O problema é que, com a crise
do mercado publicitário e os resultados negativos do Google, do YouTube
e também da Amazon, o sonho de conseguir bilhões pelas competições parece cada vez mais distante.
A venda de anúncios pela LiveMode nas atrações de Casimiro também ficaram abaixo do previsto.
Globo e rivais incomodados
O movimento da Fifa incomodou a Globo e outros grupos tradicionais que viram na decisão um ataque a seus modelos de negócio.
Casimiro não é um problema para a Globo. O que incomoda a emissora é a Fifa e a LiveMode entregarem de graça no YouTube o mesmo conteúdo que a Globo faz o espectador pagar para assistir no SporTV e no Globoplay.
A Fifa exige valores altíssimos
para negociar pacotes com grupos de mídia como a Globo (que paga
bilhões). Quando não vende com exclusividade, a federação entrega de
graça na internet, destruindo toda a cadeia de valor do mercado.
Para
piorar, acordos como o de Casimiro com a FIFA são baseados em divisão
de receita. Então, o YouTube traz apenas alguns milhares de reais para
os cofres da Fifa, mas destrói o negócio de grupos tradicionais. É
difícil entender a lógica da organização de trocar bilhões por milhões.
Nos EUA, o YouTube comprou o Sunday Ticket --pacote esportivo de futebol americano. Mas terá pagar mais de R$ 2 bilhões (R$ 10,2 bilhões) por ano para a NFL, liga nacional do esporte nos EUA e dona dos direitos. E mais, apenas os assinantes do YouTube TV terão acesso aos jogos e pagando até US$ 300 dólares (R$ 1.540) pelo pacote. O YouTube TV custa US$ 64,99 (R$ 333) por mês.
Streaming ainda é pequeno
A TV
aberta transmite esportes de graça porque tem escala e alcance,
principalmente no Brasil. Mas o streaming por enquanto não tem o mesmo
impacto e capacidade de monetização dos campeonatos. É por isso que no
mundo inteiro a regra é o espectador pagar para assistir a campeonatos.
Quando plataformas de streaming pagam bilhões por direitos esportivos e os apresentam no streaming, perdem dinheiro. Mas em contrapartida, ganham mercado ao atrair mais assinantes. Segundo o CEO da Netflix, essa é a razão para a empresa não transmitir esportes ao vivo, já que querem crescer sem ter prejuízos.
Mas no caso de Casimiro no YouTube, não
há assinaturas, então a dependência da publicidade é grande. Mesmo o
YouTube sendo enorme, seu alcance ainda é inferior ao da TV aberta.
Se transmitir esportes no streaming com assinatura já dava prejuízo, de graça e com menos publicidade será ainda mais difícil.
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