Monarca estava sob supervisão médica; últimos anos foram marcados por problemas de saúde
Rainha teve 4 filhos –Charles, Anne, Andrew e Edward –, 8
netos –incluindo os príncipes Harry e William – e 12 bisnetos - entre
eles, George, Charlotte e Louis, filhos de William, e Archie e Lilibeth,
filhos de Harry
08.set.2022 (quinta-feira) - 14h33
Como notou a revista britânica The Economist, em 70 anos de reinado, a rainha:
- conviveu com 15 primeiros-ministros do Reino Unido;
- encontrou-se com 12 (de 14) presidentes dos EUA (conheceu Harry Truman antes de virar rainha; o outro de fora da lista é Lyndon B. Johnson);
- emprestou seu nome para mais de 600 organizações de caridade;
- teve ao longo da vida mais de 40 cães da raça welsh corgi pembroke.
JUBILEU DE PLATINA
Os 70 anos de reinado de Elizabeth 2ª foram celebrados
em 2 de junho de 2022 e duraram 4 dias. Mas a rainha não conseguiu
cumprir todas as tradições por causa de problemas de saúde e de
mobilidade.
No 1º dia, foi organizado um grande evento aberto ao público em comemoração ao Jubileu de Platina. O desfile da Guarda Real, chamado de “Desfile do Estandarte”, realizado no Palácio de Buckingham, reuniu milhares de pessoas. Cerca de 1.500 militares foram acompanhados por integrantes da monarquia britânica montados em cavalo ou transportados em carruagens.
Tradicionalmente, Elizabeth seria a responsável por inspecionar e acompanhar a cavalo as tropas que participam do desfile. No entanto, por causa do estado de saúde da monarca, o protocolo foi cumprido pelo então herdeiro do trono, o príncipe Charles. Ele foi acompanhado pelo filho William e pela irmã Anne.
Elizabeth também não desfilou em uma carruagem. Saudou o público da
sacada, acompanhada em um 1º momento por um primo, o duque de Kent,
coronel da Guarda Escocesa.
Depois, reapareceu na varanda com outros integrantes da família real. A 2ª aparição da rainha na varanda reuniu 4 gerações da realeza britânica. Eles assistiram ao sobrevoo especial de aeronaves que se deu depois do tradicional desfile Trooping the Colour.
No 2º dia (3.fev.2022), Elizabeth 2ª não participou da missa em homenagem ao Jubileu de Prata na Catedral de São Paulo, em Londres. Segundo o Palácio de Buckingham, a monarca sofreu um “desconforto” e não pode ir ao evento.
COROAÇÃO TRANSMITIDA
Em 2 de junho de 1953, Elizabeth 2ª foi coroada rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, aos 26 anos. Pela 1ª vez na história da monarquia britânica, a cerimônia foi transmitida ao vivo pela rádio e TV como uma tentativa para aproximar a realeza do público. A coroação foi acompanhada por centenas de milhares de pessoas de todo o mundo.
Momento da coroação da rainha Elizabeth, em 2 de junho de 1953 Reprodução/Royal UK |
Sua liderança no cenário pós-guerra acompanhou a diluição do império britânico e consequente formação da Commonwealth, grupo de 53 nações que inclui diversas ex-colônias da Grã-Bretanha.
Ao longo da vida, realizou diversas viagens pelo mundo –incluindo
para a Alemanha, em 1965, depois de 5 décadas sem nenhum chefe de Estado
pisar do país. Também visitou nações do Oriente Médio, que vieram a se
tornar importantes parceiros comerciais na importação de petróleo.
Em seu reinado, Elizabeth 2ª trabalhou com 15 primeiros-ministros britânicos. Entre os mais proeminentes estão Winston Churchill (1951-1955), que contribuiu para a formação política de Elizabeth 2ª, além de auxiliá-la nos primeiros passos como rainha; e Margareth Thatcher (1979-1990), que apesar dos 11 anos no poder, não estreitou os laços com a monarca.
ASCENSÃO AO TRONO
O nascimento de Elizabeth Alexandra Mary, em 21 de abril de 1926, não
trouxe grandes expectativas para a monarquia britânica. Ela era a filha
mais velha do príncipe Albert, duque de York –à época o 2º na linha de
sucessão do rei George 5º.
Seu destino mudou quando o tio, o rei Edward 8º, abdicou do trono para se casar com a norte-americana Wallis Simpson, em 1936. Em consequência, seu pai – George 6º –, foi coroado, elevando Elizabeth a nova herdeira ao torno.
Durante a infância, foi influenciada pela mãe a seguir a fé cristã e
as exigências da vida real. Sua educação contou com professores
particulares, com ênfase em história e direito da Grã-Bretanha. Também
estudou música e francês, língua que falava com fluência.
Manteve muitos cavalos de corrida puro-sangue. Era comum que comparecesse a eventos de corrida e reprodução. Também teve dezenas de cães da raça welsh corgi pembroke – popularmente chamados de corgi e hoje conhecidos como a “raça oficial da rainha Elizabeth 2ª”.
Ainda princesa, aos 21 anos, casou-se com o tenente da Marinha Real britânica Philip Mountbatten, em 20 de novembro de 1947. Em mais de 73 anos de casamento, Phillip desempenhou o papel de príncipe consorte –cargo que o predispôs a “braço direito” da rainha. A morte de Phillip foi confirmada pelo Palácio de Buckingham em 9 de abril de 2021, aos 99 anos.
Juntos, tiveram 4 filhos –Charles, Anne, Andrew e Edward –, 8 netos –incluindo os príncipes Harry e William – e 12 bisnetos – entre eles, George, Charlotte e Louis, filhos de William, e Archie e Lilibeth, filhos de Harry.
Copyright Reprodução/Instagram @clarencehouse |
Na imagem, a rainha Elizabeth 2ª ao lado do marido, o Duque de Edinburgh, e os filhos Charles e Anne | Reprodução/Instagram @clarencehouse
Com a morte da rainha, a coroa será herdada por Charlie.
ESCÂNDALOS E POLÊMICAS
Descrita como modesta, a rainha Elizabeth 2ª deixou transparecer
poucas vezes seus sentimentos para a opinião pública. Uma das poucas
exceções foi em 1992, ano do incêndio em Windsor e da separação do
príncipe Charles e de Diana. A rainha admitiu serem datas que preferia “não lembrar”.
O casamento de Charles e Diana, realizado em 1981 e muito incentivado pela família real, terminou em divórcio, em 1996, depois de uma série de acontecimentos que respingaram inevitavelmente na rainha.
Quando o jornalista Andrew Morton lançou a biografia de Diana, em 1992, as afirmações da princesa –já afastada da família real –se uniram a uma série de gravações embaraçosas que revelaram casos extraconjugais mútuos. Elizabeth 2ª, então, consentiu para que o casal se separasse formalmente.
Mas as polêmicas estavam longe de acabar. Em entrevista para a TV,
Charles admitiu que fora infiel a Diana. A princesa, em outro programa,
disse ter recebido pouco apoio da família real durante o casamento.
Afirmou que, embora tivesse grande apreço pela rainha e seu reinado de
décadas, não tinha certeza se Charles estava disposto a seguir os passos
da mãe.
Foi a gota d’água. A rainha pediu ao filho e a Diana que concluíssem o divórcio. Um ano depois da oficialização do divórcio, em agosto de 1997, Diana morreu em um trágico acidente de carro ao ser perseguida por “paparazzis”. Na ocasião, Elizabeth foi duramente criticada pela demora em se manifestar sobre a morte da ex-nora.
A carta de condolências só foi escrita 6 dias depois do acidente, em
um documento no qual revelou sua dor particular pela morte de Diana. Na
véspera do funeral, elogiou Diana em um discurso ao vivo e rompeu a
tradição ao permitir que a bandeira fosse hasteada a meio mastro no
Palácio de Buckinghan.
Depois da morte de Diana, Elizabeth 2ª passou por outro momento muito difícil, com a saída do príncipe Harry da realeza, oficializada em fevereiro de 2021. O neto da monarca decidiu com sua esposa, a ex-atriz norte-americana Meghan Markle, que não faria mais parte da família real.
Copyright Reprodução/Instagram @theroyalfamily |
Harry alegou “falta de apoio” e episódios de racismo contra o 1º filho do casal, Archie. Segundo o casal, integrantes da realiza estariam preocupados sobre “qual seria a cor” do bebê.
Em março, depois que Harry e Meghan deram as declarações em uma entrevista à apresentadora Oprah, Elizabeth 2ª se pronunciou. “A família inteira está triste ao saber quão desafiadores os últimos anos têm sido para Harry e Meghan”, afirmou em comunicado. A monarca afirmou que analisaria as questões sobre racismo com seriedade. “Serão tratadas pela família em particular”.
Mas tratar de forma “particular” o assunto não foi
suficiente. A realeza precisou determinar uma revisão das políticas de
diversidade étnica e de orientação sexual que são aplicadas no
recrutamento de pessoal nos palácios, incluindo Buckingham (residência
oficial e local de trabalho da monarca), Clarence House (residência
oficial e local de trabalho de Charles) e o Kensington (de William e sua
esposa, Kate, duques de Cambridge).
Em agosto de 2021, o príncipe Andrew, 2º filho da rainha, foi acusado de abuso sexual contra uma menor de idade, em Nova York (EUA). Virginia Giuffrev o acusou de ter abusado dela quando tinha 17 anos, em uma rede de tráfico sexual supostamente comandada pelo bilionário Jeffrey Epstein, que foi preso durante o escândalo e se matou ainda na prisão. O abuso teria ocorrido entre 2000 e 2002. Andrew negou as acusações em entrevista à BBC em novembro de 2019.
A RAINHA E O BRASIL
Elizabeth 2ª só esteve no Brasil uma única vez, em novembro de 1968, em sua 1ª viagem à América Latina. Encontrou-se com o então presidente, general Costa e Silva, e inaugurou uma escola infantil em Brasília –o Jardim de Infância, na 308 Sul, na Asa Sul.
Vários presidentes brasileiros se encontraram com a monarca em
viagens ao Reino Unido. A rainha conheceu chefes de Estado do Brasil
desde o período ditatorial até a democracia.
Encontrou-se com Ernesto Geisel em 1976, no auge da ditadura militar. Com Fernando Henrique Cardoso foram 4 encontros –sendo o 1º apenas 5 meses antes da posse.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a rainha em uma viagem de 3 dias em 2006. A também petista Dilma Rousseff se reuniu com a monarca em 2012, na abertura dos Jogos Olímpicos de Londres.
Rainha Elizabeth 1ª e o príncipe Philip, Ruth Cardoso, FHC e Elizabeh 2ª, em banquete oferecido ao governo brasileiro em Londres
| Fundação FHC - 6.dez.1997
Lula encontrou-se com a rainha em 2009 em visita ao Palácio de Buckingham, em Londres
| Ricardo Stuckert - 5.nov.2009
Outras personalidades também tiveram reuniões com a rainha. Pelé foi o anfitrião na visita de Elizabeth 2ª e do príncipe Phillip ao estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1968. O escritor Jorge Amado e a cantora Elza Soares também se reuniram com a monarca durante a sua visita ao Brasil.
OUTFIT
Elizabeth 2ª se destacava pela escolha de roupas com cores vibrantes e chamativas. E esse era o objetivo. A escolha dos tons que seriam usados pela rainha ocorria por questão de segurança para que ela fosse facilmente identificada na multidão. Depois, acabou virando uma característica da monarca. Além disso, Elizabeth 2ª precisava de tecidos que não amarrotassem nos deslocamentos e, claro, que o modelo fosse elegante.
Apesar de ter uma grande coleção de joias, ela usava cerca de 30
peças. Entre as favoritas, pérolas discretas e broches combinando com o
tom da roupa escolhida. Volta e meia, também apareceu compondo a paleta
de cores com acessórios complementares, como guarda-chuva, lenços e até
óculos escuros.
Copyright Royal Family Instagram |
Mas o grande mistério mesmo era o que Elizabeth 2ª carregava dentro da sua bolsinha preta, peça garantida em qualquer combinação para qualquer evento.
A curiosidade era tanta que o assunto rendeu um livro: “What’s in the Queen’s Handbag?”
(O que há na bolsa da rainha?, em tradução livre). De acordo com o
autor, Phil Dampier, Elizabeth 2ª carregava diversos itens, incluindo
petiscos para cachorro. “Petiscos para os seus amados corgis; às vezes uma palavra cruzada cortada de um jornal caso ela precise matar tempo”, disse em entrevista a Hello! Magazine, em 2016.
Sally Bedell Smith, autora do livro “Elizabeth the Queen: The Woman Behind The Throne” (Rainha Elizabeth: a mulher por trás do trono, em tradução livre), afirmou que a monarca também carregava um espelho, um batom e notas de £5 para doações em igrejas.
Elizabeth também já foi fotografada tirando um par de óculos da
bolsa. Entre os itens mais especiais, acreditava-se que ela carregava
uma bolsinha de metal para maquiagem, um presente do marido, príncipe
Phillip, e objetos que dariam sorte, como miniaturas de cachorros,
cavalos e fotografias da família.
O fiel acessório de Elizabeth 2ª também servia para passar sinais secretos para sua equipe. Segundo o Telegraph, se ela colocasse a bolsa na mesa, seus funcionários saberiam que ela queria encerrar o evento nos próximos 5 minutos. Se ela colocasse no chão, era sinal de que ela não estava gostando da conversa que estava tendo e precisava ser interrompida por alguém.
ATUAÇÃO NA PANDEMIA
Durante seu tradicional discurso de Natal em 2020, 1º ano da pandemia, a rainha agradeceu o trabalho dos profissionais de saúde e enviou mensagem de apoio às famílias afetadas pela covid: “Você não está sozinho”. Para ela, o ano “manteve as pessoas afastadas, mas que serviu para nos aproximarmos”.
Naquele ano, em quase 4 décadas, a rainha não passou a data na
residência em Sandringham, como de costume. Ficou no castelo de Windsor
com o príncipe Philip. Com isso, a monarca e o marido não comemoraram o
Natal com o resto da família. À época, o Reino Unido adotava medidas
rigorosas de distanciamento social para tentar conter o avanço do
coronavírus.
Elizabeth 2ª também homenageou em seu discurso todos aqueles que perderam um parente durante a pandemia e passaram as festas de fim de ano sozinhos.
NOMEAÇÃO DE NOVO PREMIÊ
Durante o ano de 2022, a rainha presenciou um período de crise no
governo britânico. Em 6 de setembro, o ex-primeiro-ministro do Reino
Unido Boris Johnson deixou o cargo oficialmente depois de renunciar em 7 de julho.
Johnson foi levado a sair da função depois que dezenas de ministros do seu governo pediram demissão. As demissões se deram em resposta à nomeação do parlamentar do Partido Conservador Chris Pincher pelo ex-premiê para o cargo de vice-chefe da bancada do governo na Casa. Ele era acusado de assédio sexual.
Antes disso, Johnson já estava envolvido em um escândalo relacionado à covid. Conhecido como “partygate”, o caso revelou dezenas de festas feitas pelo gabinete em Downing Street em maio de 2020. À época, Londres estava em lockdown por causa da pandemia.
Boris Johnson confirmou ter participado de festas com o seu gabinete e pediu desculpas a Elizabeth 2ª. Com o escândalo, 5 assessores pediram demissão. Três eram investigados pelas festas realizadas na sede do governo.
Ambos os episódios fizeram o ex-premiê perder força dentro do Partido
Conservador. Com o anúncio de sua renúncia em julho, a legenda iniciou um processo de 2 etapas
para a escolha de um novo primeiro-ministro que governará o país até as
próximas eleições britânicas, previstas para janeiro de 2025.
Entre 8 candidatos ao cargo, integrantes do partido escolheram Liz Truss para ser a primeira-ministra do Reino Unido. A nova líder foi convidada pela rainha Elizabeth 2ª a formar um novo governo em 6 de setembro.
No entanto, o encontro entre a monarca e Truss se deu no Castelo de Balmoral, residência de verão da família real britânica, onde a rainha morreu. Foi a 1ª vez em 70 anos de reinado que Elizabeth recebeu um novo líder britânico fora do Palácio de Buckingham. O fato se deu por conta dos problemas de saúde e mobilidade que a rainha enfrentava. Na ocasião, chamaram a atenção os hematomas que a rainha apresentava na mão.
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