Com foco mais no humor e menos em explicações, capítulo brinca com absurdos e não tem medo de rir de si mesmo.
Uma coisa que ninguém pode acusar Mulher-Hulk: Defensora de Heróis é de não ser honesta. Dentro de um universo muito preocupado em se expandir para manter a atenção do público, a jornada da heroína advogada se despiu de qualquer pretensão de “mudar tudo” e concentrou seus esforços na construção de uma comédia que une o cotidiano de uma advogada ao surreal mundo de heróis, magos e gênios da ciência.
Essa premissa foi estabelecida ao longo dos dois primeiros episódios, que usaram a fórmula de origem de heróis que a Marvel refinou ao longo de quase 15 anos. Aproveitada para apresentar a protagonista e estabelecer o tom da história, essa estrutura também teve quebras pontuais para garantir identidade ao novo lançamento do MCU.
Com uma base montada firmemente ao longo da primeira hora, a produção
finalmente mostra a que veio no terceiro capítulo. Unindo todas as
forças que a série buscou na introdução, “O Povo Contra Emil Blonsky”
mostra que há outras maneiras de ampliar o Universo Marvel.
[A partir daqui, spoilers do terceiro episódio de Mulher-Hulk]
Com menos de meia hora de duração, é digno de nota quantos elementos o terceiro episódio de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis movimenta. Retomando o enorme gancho deixado pelo segundo episódio, a produção finalmente pôde explicar o que Abominável (Tim Roth) e Wong (Bennedict Wong) faziam em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis e, mais importante, como isso afeta o primeiro caso de Jennifer Walters (Tatiana Maslany) no emprego novo.
Para provar a inocência de seu cliente, que foi gravado fora da prisão em que deveria estar cumprindo pena, a advogada pede ajuda a Wong, que interrompe seus afazeres para explicar o ocorrido. A resposta é a mais simples possível, e o mestre das artes místicas afirma que libertou Blonsky para que pudesse ajudá-lo a treinar para assumir o cargo de Mago Supremo.
Retomar uma ponta deixada por outra produção não é algo inédito ao MCU, mas a forma como a produção o faz é o que torna Mulher-Hulk uma série tão divertida. O texto aproveita a velha dinâmica de fazer rir através de choques culturais e extrai de Wong uma veia cômica que havia sido pouco utilizada até aqui.
A performance de Benedict Wong em conversas e depoimentos é hilária o suficiente para causar revolta pelo uso preguiçoso do personagem no passado. Chega a ser difícil acreditar que Doutor Estranho (2016) focou em piadas constrangedoras como a da Beyoncé quando havia potencial para muito mais.
A participação de Wong é incorporada à comédia de tribunal que a produção tanto prometeu. Essa característica ganha destaque justamente no julgamento do Abominável, que tem a seu favor o fato de que retornou ao cárcere, mesmo quando poderia desfrutar da liberdade no Kamar-Taj ao lado de magos que o protegeriam.
O desenrolar do caso, e seu desfecho favorável ao vilão reformado, segue a tônica do seriado. Não é surpreendente ou descomunal, mas é executado com graça, mostrando o que a produção tem de melhor: a comédia. A reunião de talentos como Tatiana Maslany, Tim Roth e Benedict Wong, munidos de um texto que favorece seus personagens, dá vida a um julgamento que se torna instantaneamente um dos momentos mais divertidos do MCU.
E é especialmente engraçado que a produção mantenha o desinteresse em
se explicar demais para evitar furos de roteiro. Ao invés de gastar um
tempo precioso explicando como um monstro gigantesco e assassino deixou
uma prisão de segurança máxima sem que ninguém percebesse, a produção
foca no absurdo dessa situação e em como resolvê-la.
Julgamentos e diversão
Além do caso principal de Emil Blonsky, o terceiro episódio de Mulher-Hulk mostrou um outro julgamento. No caso, o processo que o promotor Dennis Bukowski (Drew Matthews) moveu contra uma elfa metamorfa que lhe enganou, se passando pela cantora Megan Thee Stallion.
Além de ampliar o elenco de apoio da Mulher-Hulk, essa trama paralela serve a dois grandes propósitos. O primeiro é mostrar como viver em um universo como o MCU pode ser complicado. Se produções anteriores alertaram sobre os perigos de ser pego no meio do fogo cruzado entre heróis e vilões, agora uma porta foi aberta para casos mais específicos, exóticos e, portanto, hilários.
Mulher-Hulk rebolando com Megan Thee Stallion |
Já o segundo é fazer valer uma comédia de costumes poucas vezes vista nas produções da Marvel. A caracterização de Dennis Bukowski é uma caricatura que não faz a menor questão de disfarçar o alvo da piada. Tendo em conta o absurdo dessa postura, muito comum no mundo real, a produção renuncia ao didatismo e simplesmente foca em fazer rir.
Um objetivo que rende, inclusive, a hilária cena pós-créditos em que a heroína desce até o chão com a verdadeira Megan Thee Stallion. É a série dando de ombros para qualquer pretensão de ser levada puramente a sério e abrindo espaço para a diversão pela diversão. Até porque o humor pode ser uma forma bastante contundente de passar uma mensagem.
Não à toa essa trama está presente no episódio que mostra pessoas
reclamando sobre o surgimento de mais heroínas. A cutucada
metalinguística aos detratores de Mulher-Hulk – e outras
produções protagonizadas por mulheres – ainda é levada adiante quando a
personagem toma a decisão de contar a própria história e, dessa forma,
controlar a própria narrativa.
É um passo tão simples quanto simbólico, mas que deixa bem claro que a equipe comandada pela criadora Jessica Gao (Rick and Morty) sabia bem onde estava pisando e se preparou para isso.
O episódio é tão divertido que a cena final, em que a heroína é
atacada pelo que parece ser a Gangue da Demolição, sequer faria falta.
Claro que ela traz o componente de ação esperado de uma produção
super-heróica, e deixa o gancho para quem será o tal “chefe” do grupo.
Mas chega atrasada, já que o espectador já aceitou voltar para descobrir
qual será o julgamento inusitado da próxima semana.
Mulher-Hulk: Defensora de Heróis ganha novos episódios às quintas-feiras, no Disney+.
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