Fala do apresentador do podcast foi repudiada por seguidores, autoridades e associações; ele se desculpou nesta terça-feira (8)
Depois de defender a existência de um partido nazista no Brasil, o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, publicou na tarde desta terça-feira (8) um vídeo em que se desculpa pela fala no podcast Flow. "Eu errei, a verdade é essa. Eu estava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares do mundo — nos Estados Unidos, por exemplo —, mas eu fui defender essa ideia de um jeito muito burro, eu estava bêbado, eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica.
Igor Coelho, um dos sócios e apresentador do Flow, confirmou em live
na noite de hoje ao lado de Monark que comprou a parte dele na
sociedade.
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"A gente tinha meio a meio. O que vai acontecer é que eu vou comprar a metade dele, até para ele ter uma... porque não acho que seja justo ele abrir mão de tudo isso", disse Igor.
Existem os trâmites legais. Os advogados precisam retificar as coisas na empresa, mas a verdade é que esse é o último programa do Monark aqui comigo nessa mesa. Conto com vocês no futuro, vamos continuar fazendo programas aqui. Os programas vão continuar na casa. Essa decisão foi tomada em conjunto com o Monark, porque mais de 80 pessoas dependem aqui do Flow. Igor Coelho
Na live, Monark disse rapidamente que o Flow "precisa transcender o Monark, precisa ser desassociado [ao meu nome]".
"E a gente acha que esse é o melhor caminho. Claro que terei minhas paradas, ficarei produzindo no meu canto. Mas é isso, infelizmente eu errei a forma como me comuniquei. E muita gente defendeu algo que sou completamente contra. Melhor eu assumir minha culpa", explicou o youtuber.
Bruno Aiub, o Monark, aparecia como administrador da
Flow Produção de Conteúdo Audiovisual LTDA, empresa responsável pelo
podcast. A assessoria do Flow informou que os únicos sócios agora são Igor Rodrigues Coelho e Gianluca Santana Eugenio.
Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, ex socio e apresentador do 'Flow Podcast' |
O caso
A
defesa da existência de um partido nazista dentro da lei por Monark foi
feita durante transmissão ao vivo ontem, na qual eram entrevistados os
deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB).
"A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião [...] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei", afirmou o apresentador.
Ele foi rebatido por Tabata logo após a
declaração, mas insistiu no argumento questionando a parlamentar. "As
pessoas não têm o direito de ser idiotas?", perguntou.
Peço perdão pela minha insensibilidade", afirmou. "Fui insensível, sim, errei na forma com que eu me expressei, dá a entender que estou defendendo coisas abomináveis."
Veja o vídeo em que o apresentador se desculpa:
— ♔ Monark (@monark) February 8, 2022
Às 16h30, os Estúdios Flow divulgaram uma nota em que anunciavam o
desligamento de Monark, apesar de ele ser um dos sócios da empresa. Em
live na noite desta terça, o outro apresentador do podcast, Igor Coelho,
afirmou que comprará a parte de Monark na empresa.
PRONUNCIAMENTO OFICIAL pic.twitter.com/p1uru0Z4iw
— Flow Podcast (@flowpdc) February 8, 2022
O comentário foi feito nesta segunda-feira (7), durante uma entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB).
No estúdio, o apresentador disse que a legislação deveria reconhecer a
existência de um partido nazista no Brasil. "A esquerda radical tem
muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas
tinham que ter espaço, na minha opinião. [...] Eu acho que o nazista
tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei", disse.
Ao ouvir a fala, Tabata Amaral afirmou que o nazismo é um risco, especialmente para a comunidade judaica. "Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica, e isso coloca uma população inteira em risco", afirmou a parlamentar.
A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo.
— Alexandre de Moraes (@alexandre) February 8, 2022
No Brasil, assim como na Alemanha, é considerado crime fabricar,
comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de
divulgação do nazismo. Aqui, a regra consta no artigo 1º da Lei
7.716/1989. A pena para quem pratica esse crime pode variar de um a três
anos de prisão, mais multa.
O cientista político e advogado especialista em direito público Nauê de Azevêdo considera as falas de Monark "repudiáveis", mas destacou que ele provavelmente não chegou a praticar crime com o discurso. "Inicialmente, não vi ali uma apologia direta ao nazismo. Isso seria um crime, mas ele requer esse dolo específico de você promover a ideia. O que ele fez ali foi, de uma forma extremamente irresponsável, de uma forma extremamente torpe, defender que nós deveríamos tolerar a existência de um partido nazista. Ele estava ali numa forma de debate. Então, na esfera penal, eu não vejo muitos elementos para responsabilizá-lo", afirmou.
O jurista, entretanto, disse que Monark pode ser processado civilmente. "A forma como ele se posiciona sobre esse tema e tantos outros, considerando o alcance que ele tem — que é um alcance muito grande —, essa, sim, pode, de alguma forma, render espécies de responsabilização civil. Porque, querendo ou não, ele incide sobre a sociedade. Ele ajuda, de uma forma ou outra, a legitimar determinados discursos que são nocivos para a sociedade."
No Twitter, o assunto ficou várias horas como o mais comentado entre os
usuários. O nome "Monark" aparecia no topo da lista das palavras mais
publicadas na rede pelo menos até as 17h02 desta terça-feira (8).
A usuária do Twitter Ive Brussel criticou o apresentador e lembrou que estar bêbado não exclui a eventual prática de crime.
Art 28 II DO CP : embriaguez voluntária não é causa de excludente de culpabilidade
— Ive Brussel (@brussel_ive) February 8, 2022
Ricardo Taves, que se identifica como judeu, diz não aceitar as desculpas do podcaster.
Como judeu não aceito seu perdão e não vou compreender nada. O álcool tem muitos efeitos, mas o nazismo é injustificável em qualquer estado etílico ou alucinógeno. Se você se embriaga no teu negócio, problema teu, mas ao mexer com uma tema como esses nenhuma desculpa bastará.
— Ricardo Taves (@ricardotaves) February 8, 2022
O usuário Matheus Valadão lembrou que o Flow está perdendo patrocínios e prejudicando os demais apresentadores do estúdio, além da equipe que trabalha por trás das câmeras.
O podcast, criado por Monark e por Igor Coelho (Igor 3K), tem 3,6 milhões de inscritos só no YouTube. O Flow já perdeu patrocinadores quando, em 2021, Monark foi criticado após ter questionado no Twitter se "ter opinião racista é crime".
Monark, o @estudiosflow HOJE é ganha pão de inumeras famílias, tem varios podcasts que nao tem nada a ver com essa sua opinião.
— ☘️matheus_valadao (@matheus_valadao) February 8, 2022
Você pelo tamanho q tem...Tem que ser responsável e tomar cuidado com o que fala.
To p..to pq varios podcasts tao sofrendo as consequencias de vc
Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes repudiaram as declarações de Monark. Veja os tuítes:
Qualquer apologia ao nazismo é criminosa, execrável e obscena. O discurso do ódio contraria os valores fundantes da democracia constitucional brasileira. Minha solidariedade à comunidade judaica.
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) February 8, 2022
A Constituição consagra o binômio: liberdade e responsabilidade. O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo.
— Alexandre de Moraes (@alexandre) February 8, 2022
Entidades como a Conib (Confederação Israelita no Brasil) também
manifestaram repúdio à fala. "A Conib (Confederação Israelita do Brasil)
condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista
no Brasil e o 'direito de ser antijudeu', feita pelo apresentador
Monark, do Flow Podcast. O nazismo prega a supremacia racial e o
extermínio de grupos que considera 'inferiores'. Sob a liderança de
Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da
Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais,
ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de
ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua
maior evidência histórica", disse a entidade, em nota.
A Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) também publicou nota nas redes sociais sobre o ocorrido. Leia a íntegra:
"Na noite dessa segunda-feira (7), o host do 'Flow Podcast', Bruno Aiub, o Monark, manifestou-se de modo absolutamente inaceitável enquanto entrevistava os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral. Aiub defendeu, de forma expressa, o direito de alguém querer ser antijudeu, bem como o direito à existência de um partido nazista no Brasil.
Mesmo contestado pela deputada Tabata Amaral, Monark insistiu que suas falas estariam escudadas no princípio da liberdade de expressão, demonstrando, a um só tempo, desconhecer a história do povo judeu e a natureza de um princípio constitucional essencial, muitas vezes deturpado por aqueles que insistem em propagar um discurso que incita o ódio contra minorias.
Nós, da Federação Israelita do Estado de São Paulo, repudiamos de
forma veemente esse discurso e reiteramos nosso compromisso em combater
ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa
evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e
os direitos humanos."
Fonte:
Vovo GaTu
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