O quebra-cabeça que se mostrou ser a mais antiga calculadora astronômica conhecida foi montado, depois de inúmeras tentativas ao longo do século passado, por uma equipe multidisciplinar da University College London (UCL).
As
esferas coloridas representam Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e
Saturno, além do Sol (à direita) e a Lua, dividida em fases (centro, à
direita). A Terra é a cúpula dourada no centro do mecanismo. Fonte: Nature/Freeth et al/Reprodução |
"O nosso é o primeiro modelo que está em conformidade com todas as evidências físicas e corresponde às descrições nas inscrições científicas gravadas no próprio mecanismo”, disse em comunicado o engenheiro mecânico Tony Freeth, principal autor do estudo publicado na Nature Scientific Reports.
Modelagem 3D
Movido a manivela, o mecanismo de dois mil anos mostra o movimento celeste de cinco planetas e mais do Sol e da Lua, prevendo e até mesmo reproduzindo a estranha órbita de Mercúrio. É o único exemplar de que se tem notícia (o bronze sempre foi reciclado, e a peça sobreviveu por ter ido a pique juntamente com um navio grego da era romana).
A equipe que reconstituiu o chamado primeiro computador do mundo
.A partir de pistas descobertas em exames de raio-X, as peças do mecanismo foram reconstituídas. Fonte: Nature/Freeth et al/Reprodução |
O desafio maior foi descobrir como a calculadora celeste funcionava, dentro dos parâmetros da época (engenharia, materiais, matemática) a partir das poucas pistas que restaram nos fragmentos carcomidos, como marcas de rolamentos, encaixes, uma engrenagem de 63 dentes, placas e blocos.
Exames de raio-X, feitos em 2005, revelaram milhares de inscrições – algumas, reconhecíveis, mostraram a função da máquina e os astros cujo movimento ela deveria reproduzir, e foram a base para o trabalho da equipe da UCL.
conseguiu, primeiro através de exames de raio-X e depois usando modelagem 3D, além de pesquisas em literatura grega e romana, chegar à complexa combinação de engrenagens. Muito do trabalho se baseou nas pistas encontradas nos 82 fragmentos que compõem apenas um terço da máquina completa (toda a parte frontal da máquina se perdeu).
Matemática grega
"A astronomia clássica do primeiro milênio a.C. originou-se na Babilônia, mas nada nesta astronomia sugeria como os gregos antigos encontraram os ciclos altamente precisos para Vênus e para Saturno", explicou o astrofísico Aris Dacanalis.
Para recuperar os ciclos referentes aos outros planetas, a equipe usou um antigo método matemático grego descrito pelo filósofo Parmênides. “Conseguimos combinar as evidências dos Fragmentos A e D até chegarmos ao mecanismo que reproduz o movimento planetário de Vênus, incluindo a engrenagem de 63 dentes”, disse o matemático e relojoeiro David Higgon.
A partir daí, explicou Freeth, “a equipe criou mecanismos para todos os planetas, calculando os ciclos astronômicos avançados e otimizando o número de engrenagens em todo o sistema, de modo que tudo coubesse no apertado espaço disponível”.
As engrenagens do mecanismo, finalmente reconstruídas. Fonte: Nature/Freeth et al/Reprodução |
Modelo vivo
Modelado em 3D, a nova versão da Máquina de Anticítera já começou a ser construído, mas a tarefa não será fácil: os pesquisadores são modernos, mas os materiais e a engenharia empregada, não.
“Agora, vamos precisar provar que o modelo é viável, construindo-o com técnicas antigas. Um desafio será o sistema de tubos inseridos uns nos outros, no centro na calculadora, responsáveis pelos cálculos astronômicos”. Enquanto o novo Mecanismo de Anticítera não fica pronto, o original permanece no Museu Nacional de Arqueologia de Atenas.
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