Com argumentação psicodélica, Polícia Federal investigou Sleeping Giants Brasil

Delegado do Paraná tentou expor nomes por trás do perfil que está quebrando a extrema direita na internet.
Um delegado da Polícia Federal em Londrina, interior do Paraná, lançou mão de argumentos peculiares para investigar o Sleeping Giants Brasil, o grupo anônimo que expõe anunciantes que veiculam publicidade em sites que publicam notícias falsas e teorias da conspiração de extrema direita.
Ricardo Filippi Pecoraro abriu inquérito policial em 25 de maio, uma semana após o grupo surgir no Twitter. O inquérito acabou arquivado, em julho, a pedido do Ministério Público Federal e por decisão da justiça. Por pelo menos um mês, no entanto, a PF tocou uma investigação insólita, para dizer o mínimo.
 
Pecoraro pediu que se produza “Informação Policial que indique, conforme seja possível, os dados e endereço do responsável legal pelo perfil Sleeping Giants”. A quebra do sigilo do perfil, como a própria investigação, só seria possível mediante justificativa razoável. Ou seja: com indícios de crime, que não havia nesse caso.
A estratégia do Sleeping Giants é alertar publicamente anunciantes que compram mídia programática no Google AdSense e em outras plataformas. Na maior parte das vezes, o anunciante não sabe que o Google distribui seus anúncios também em sites que propagam notícias falsas. Alertados pelo Sleeping Giants, eles podem pedir para que a plataforma retire suas peças dos canais que divulgam mentiras, o que faz com que os donos dos veículos percam faturamento.
Com a investigação, porém, Pecoraro queria que o grupo “possa ser devidamente intimado e ouvido por esta Autoridade Policial, a fim de esclarecer quais seriam as fake news propagadas e por quais mídias estas se dariam”.
Ele citou artigos do código penal que tratam de incitação ao crime – algo que é difícil de enxergar no trabalho do Sleeping Giants – e denunciação caluniosa. Mais: as denúncias do grupo contra os sites de notícias falsas são públicas e estão postadas em todas as redes sociais. Não é preciso ouvi-los oficialmente para isso, basta usar o Google.
 
Para justificar o inquérito que abriu, Pecoraro afirmou que “pode-se deduzir, segundo análise de inteligência policial, que há razoável possibilidade de que referido perfil sleeping giants possa ter tido acesso a informações sigilosas do Inquérito Policial que tramita no STF, e que as esteja usando para apontar a qualidade de propagadores de fake news a possíveis alvos investigados pelo STF e que lhe sejam previamente conhecidos”. Como o delegado chegou a essa conclusão é um mistério.
A análise de inteligência policial mencionada foi elaborada pelo próprio delegado para justificar a investigação. O objetivo central não parecia ser combater fake news – caso fosse, bastaria investigar os sites denunciados. Mas o delegado Pecoraro pareceu mais interessado em descobrir a identidade dos denunciantes.
Ele chegou a sugerir que só quem conhece o discutido inquérito que tramita sob os cuidados do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal é capaz de saber o que são fake news. Uma teoria e tanto. Perguntamos a Pecoraro e à Polícia Federal de que forma se chegou a essa conclusão, além de qual a definição do delegado para fake news. Ficamos sem respostas.
 
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