Enquanto notas repúdio e expulsões não vinham, as tags #XboxApoiaRacista e #TwitchApoiaRacista ululavam pelo Twitter –esta última chegou aos trending topics
Se a expressão "guerra cultural", que está na moda já há várias estações, tem permeado toda a indústria cultural, os videogames não são exceção. No Brasil, a última semana deu pano para a manga.Num sábado (30) em que manifestações, virtuais e presenciais, ligadas ao Black Lives Matter só cresciam, mas um membro de um famoso canal de games no YouTube preferiu postar no Twitter uma montagem em que se lia "o que pessoas negras estão fazendo hoje/ o que pessoas brancas estão fazendo hoje". De um lado, uma foto uma pessoa negra próxima a um carro em chamas. Do outro, astronautas brancos em simulador da SpaceX.
Enquanto notas repúdio e expulsões não vinham, as tags #XboxApoiaRacista e #TwitchApoiaRacista ululavam pelo Twitter –esta última chegou aos trending topics.
A Xbox Brasil se posicionou na terça (2) e passou a exigir que os youtubers parassem de usar o nome da marca em seus canais. "O conteúdo da conta Mil Grau não reflete nossos valores fundamentais de respeito, diversidade e inclusão. Nós já exigimos a remoção imediata da nossa marca dos seus canais, por meio das empresas de redes sociais." A fabricante não diz se entrará na justiça.
Na quarta (3), o youtuber também foi expulso da Twitch, a mesma plataforma de streaming de games que baniu o filho 04 de Bolsonaro, Jair Renan, que disse que pandemia é história da mídia e que coronavírus é só uma 'gripezinha'.
A Twitch não confirma se baniu o usuário especificamente por causa da postagem racista e nem se a suspensão é permanente ou temporária. A empresa apenas afirma que "conduta de ódio não é permitida na Twitch".
Posteriormente, o YouTube também entrou na briga. "Com as denúncias de usuários, tomamos conhecimento de conteúdos no canal Xbox Mil Grau que violam nossas políticas. Os vídeos foram removidos e o canal está permanentemente suspenso do Programa de Parcerias do YouTube."
Com as denúncias de usuários, tomamos conhecimento de conteúdos no Canal XBOX Mil Grau que violam nossas políticas. Os vídeos foram removidos e o canal está permanentemente suspenso do Programa de Parcerias do YouTube.
— YouTube Brasil (@YouTubeBrasil) June 5, 2020
Um dos principais combustíveis que movem o canal é um ódio ao PlayStation –e em favor da concorrente da Microsoft. Em um dos vídeos, uma retroescavadeira destrói consoles da Sony e uma foto do designer de games Hideo Kojima.
O membro do canal mudou o nome de usuário no Twitter para inserir um spoiler –falso, diga-se– do jogo de PlayStation "The Last of Us Part 2", que será lançado no próximo dia 19.A provocação ao jogo não parece ter sido por acaso, já que o game toca em temas centrais das guerras culturais: gênero e sexualidade (e apocalipse zumbi, claro, que é mais um pano de fundo).
Com personagens lésbicas e trans, o jogo tem sido chamado por gamers conservadores de "Lesbian of Us", e é acusado de propagar a chamada "ideologia de gênero", enquanto memes com imagens vazadas do jogo original se espalham pelo 4chan e pelo Twitter.
Não é a primeira vez que um jogador é banido de plataformas em meio a polêmicas sobre discurso de ódio. No ano passado, o jogador ucraniano de "Conter Strike" Oleksandr Kostyliev, o S1mple, que tem 1,5 milhão de seguidores na Twitch, foi bloqueado temporariamente com a acusação de ter feito comentários homofóbicos. A streamer americana Kacey Cabinets, a Kaceytron, com 511 mil seguidores, foi bloqueada por fazer piada com o coronavírus: "a gente devia tentar espalhar o máximo possível, porque o mundo seria um lugar melhor sem pobres e velhos". Apenas para dar alguns exemplos.
No mundo real, as fabricantes de games têm dado sinais de que escolheram um lado, ainda que pontualmente.
Seguindo os passos do braço musical da Sony, a PlayStation adiou um evento sobre o novo console da marca, ainda a ser lançado, e postou um texto em apoio ao Black Lives Matter, seguido pela hashtag do movimento, na segunda (1º). A concorrente Xbox foi lá e retuitou. A Nintendo demorou um pouco mais e publicou na quarta (3) um comunicado solidário à comunidade negra.
A Rockstar Games bloqueou temporariamente seus jogos online, incluindo "GTA" e "Red Dead", também em apoio ao Black Lives Matter, na quinta (6).