O militarismo sempre foi pioneiro e propulsor na criação de tecnologias fantásticas, sendo que algumas delas passaram a fazer parte da nossa ”rotina civil” mais tarde. Contudo, esse avanço tecnológico se destaca ainda mais quando o assunto são armas, veículos blindados e aviões.
Foto de um U-2 sendo preparado para decolagem. (Fonte da imagem: Reprodução/US Navy via Wikimedia Commons) |
Um dos resultados dessas pesquisas e desenvolvimentos é a aeronave Lockheed U-2, um avião construído na década de 50 capaz de voar até o limite da troposfera para monitorar alvos em solo sem ser percebido pelos radares inimigos.
Usado pela Força Aérea dos EUA, ele está
envolvido com as teorias conspiratórias que delatam o misterioso
complexo secreto do governo norte-americano conhecido como Área 51.
Descubra neste artigo um pouco mais sobre esta incrível aeronave e fique
louco de vontade de dar uma voltinha nela.
Quando a Guerra Fria ficou quente
A ideia de criar uma aeronave de reconhecimento que pudesse sobrevoar o espaço aéreo de outro país surgiu entre os militares dos EUA no início de 1950, quando a Guerra Fria esquentava e a tensão entre as potências econômicas e bélicas da época aumentava. O exército norte-americano queria encontrar uma forma mais eficiente de mapear o território soviético e descobrir as verdadeiras intenções de seus rivais nessa guerra “não declarada”.
Até então, os aviões de vigilância eram basicamente bombardeiros
adaptados que estavam vulneráveis às artilharias antiaéreas. Foi então
que se pensou no desenvolvimento de um veículo capaz de atingir uma
altitude tão alta que o colocasse fora do alcance de caças, mísseis e
até mesmo de radares.
A Força Aérea forneceu contrato para algumas
empresas na tentativa de fabricar esse avião. A companhia Lockheed
Corporation (hoje Lockheed Martin) ficou sabendo da proposta militar e
resolveu elaborar o seu projeto. O conceito inicial da aeronave da
Lockheed não possuía trens de pouso e só podia aterrissar por meio de
uma espécie de esqui, sendo rejeitado pelo exército dos EUA.
Porém, a ideia chamou atenção de alguns especialistas que propuseram à CIA (agência de inteligência do país) o financiamento da aeronave. O então presidente Dwight Eisenhower aprovou o pedido e liberou US$ 22,5 milhões para a fabricação de 20 aviões, sendo o modelo finalmente batizado como U-2 — uma referência ao termo “utilidade”.
A estranha relação entre o U-2 e a Área 51
E
foi assim que o Lockheed U-2, apelidado de “Dragon Lady”, saiu do papel
e levantou voo no dia 1° de agosto de 1955 em uma região de testes
militares próxima ao Groom Lake, no deserto de Nevada. Você já ouviu
falar nesse lugar?
U-2 pousando na base da Força Aérea de Beale. (Fonte da imagem: Reprodução/Max Whittaker para The New York Times) |
Sim, é ela mesma: a Área 51,
a misteriosa base militar que supostamente esconde pesquisas e
experiências com tecnologias alienígenas e que só teve sua existência
admitida pelo governo dos EUA em 1994.
Assim como quase tudo sobre esse complexo militar, não se sabe exatamente qual a relação e a atuação que esta aeronave teve com as atividades desenvolvidas nesse temido lugar. Há quem diga que a pista de pouso construída ali foi planejada especialmente para o U-2 e que a aeronave foi na verdade desenvolvida para chegar o mais próximo possível do espaço e tentar avistar ou coletar sinais de extraterrestres.
Ainda em ação
O
Lockheed U-2 pode ser considerado um velho de guerra. Como mencionamos,
ele teve um papel importante na tomada de decisões estratégicas dos EUA
em diversas operações durante a Guerra Fria e, mais tarde, também
participou do conflito que ficou conhecido como a Crise dos Mísseis de
Cuba — inclusive tendo uma unidade abatida em outubro de 1962.
Embora seu projeto tenha mais de 60 anos, o U-2 passou por diversas
reformulações ao longo do tempo e continua na atividade. Contudo, ele é
usado em missões menos “partidárias”, realizando testes atmosféricos
para a NASA.
Sua atuação militar mais recente aconteceu há alguns anos quando uma patrulha formada por algumas das 32 unidades dessa aeronave ainda existentes percorreram o céu do Afeganistão, mais precisamente na região do Golfo Pérsico, para instruir as tropas que avançavam em solo sobre possíveis bombas.
Subindo...
O Dragon Lady possui 19,2 metros de comprimento, 5 metros de altura e se destaca por sua envergadura, tendo 31,4 metros de distância entre a ponta de uma asa à outra. Os modelos mais novos do U-2 contam com um motor General Electric F118, o qual é capaz de levá-lo a uma velocidade de até 805 km/h e uma altitude superior a 21 mil metros.
O design da sua estrutura é tão voltado para mantê-lo no ar que o
avião só consegue pousar se as suas compridas asas estiverem
completamente estabilizadas. Isso sem comentar o fato de que o modelo é
muito suscetível a ventos laterais, ou seja, a situação climática pode
complicar ainda mais a vida do piloto, que fica em um cockpit
posicionado de forma que ele não consegue ter uma percepção clara da
distância entre o avião e o chão.
Vista da janela do Dragon Lady. (Fonte da imagem: Reprodução/Jeff Olesen) |
E ainda existem mais agravantes. O U-2 não possui três trens de pouso como as aeronaves convencionais. Ele conta com apenas dois conjuntos de rodas: um logo abaixo do cockpit e outro atrás do motor, que está ligado ao leme de direção para a pilotagem do avião durante os taxiamentos. Por isso, os pousos do Lockheed U-2 são acompanhados por veículos e uma equipe treinada para acoplar duas rodas auxiliares e corrigir a angulação e o peso de inclinação da aeronave.
Monitoramento quase espacial
Os dispositivos de monitoramento carregados pelo Dragon Lady estão
espalhados pela sua estrutura. Uma grande variedade de sensores fica no
seu “nariz”, enquanto outros equipamentos de vigilância são alocados
atrás do cockpit do piloto. Tais aparatos possibilitam que o avião
colete ao mesmo tempo sinais elétricos, imagens e amostras do ar.
Exemplo de filme fotográfico
capturado por um U-2 após a passagem do furacão Katrina pela costa do
Golfo do Mississipi. (Fonte da imagem: Reprodução/Max Whittaker para The New York Times) |
O alcance de captura de imagem do Lockheed U-2 talvez seja o que mais impressiona. Mesmo estando a dezenas de quilômetros do chão, a aeronave é capaz de identificar elevações de terreno que coincidem com minas terrestres, sendo essa sua função básica no Afeganistão ao longo de 2010 (conforme já mencionamos acima).
Traje especial
Como você
deve imaginar, devido à altitude operacional do Dragon Lady, o piloto
precisa usar um traje especial para que não perca a consciência com
qualquer pequena descompressão da cabine ou até mesmo venha a falecer.
A vestimenta possui funcionalidades similares às das roupas dos
astronautas, fornecendo 100% de oxigênio e tubos de alimentação para
missões mais longas. O traje se assemelha bastante com o do paraquedista
Felix Baumgartner, que realizou um salto da estratosfera.
Além disso, os condutores do Lockheed U-2 passam por uma preparação de mais de uma hora antes de entrar no cockpit. Eles vestem o equipamento necessário e começam a receber oxigênio “puro” com a intenção de evitar a hipóxia (baixo teor de oxigênio no sangue, uma consequência do deslocamento para áreas de baixa concentração de oxigênio no ar que pode levar à morte).
Passeando com o U-2
Embora tenha seus riscos, deve ser uma experiência única poder voar
com um avião desses. Se você teve essa vontade, vai ficar com inveja de
James May, jornalista e apresentador britânico que atualmente faz parte
da equipe que produz o programa Top Gear, exibido pela emissora BBC.
O apresentador sentou na cabine do Dragon Lady e viajou até o limite do “espaço” a 21,3 km de altura. Naquele momento, ele e o major John Cabigas, que pilotava a aeronave, estavam na segunda maior distância da superfície terrestre — ficando abaixo apenas dos astronautas da Estação Espacial Internacional (a ISS), que permanecem em órbita a mais de 400 km acima do nível do mar.
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