Há poucos minutos dentro do carro de um parceiro da Uber, Laura* sentiu um cheiro forte e a visão turva. Foi então que ela percebeu se tratar do novo "golpe do cheiro"
O que seria mais um trajeto de volta para casa depois de um dia de trabalho se tornou o momento de maior horror da vida de Laura*, 21, residente do Grande Recife. Em poucos minutos dentro do carro de um parceiro da Uber, ela sentiu um cheiro forte e a visão turva. Foi então que ela percebeu se tratar do novo "golpe do cheiro", estratégia recém denunciada por passageiras de transportes de aplicativo.
"Eu olhei para o retrovisor e ele (motorista) estava olhando pra mim pelo espelho, como se estivesse esperando algo. Daí caiu a minha ficha. Se eu ficasse mais um segundo lá, iria desmaiar".
O novo "golpe do cheiro" tem sido uma possível estratégia de dopagem de passageiras, usada
por criminosos. Nos últimos dias, mulheres de vários estados do Brasil
que usam transporte por aplicativo estão denunciando nas redes sociais
situações em que teriam sido vítimas da armadilha.
Segundo o professor de química Rogério Lemos, as substâncias químicas usadas no "golpe do cheiro" pode se tratar de Éter, Clorofórmio e Etanol.
bom gente, eu e ana sofremos uma tentativa de golpe do gás do uber.
— mae da flora e do chico (@carouart) June 3, 2022
vou colocar aqui o relato que enviei pra @Uber_Brasil (que obviamente não deu em nada, pra variar) e é isso, tomem cuidado, na dúvida saiam! a gente não tenho certeza se o motorista era o cara da foto, aliás. pic.twitter.com/YS4BbKTeSP
Uma das minha melhores amigas sofreu uma tentativa de intoxicação por gás num Uber ontem.
— Tha Tenso mas vai passar (@mollytrocinho) May 28, 2022
Ser mulher nesse mundo é não ter nenhum minuto de paz.
"O Éter quando inalado prejudica na absorção do
oxigênio pelo corpo. Então, quem inala se sente tonto, com náusea e pode
perder a consciência", explica o especialista.
Ainda de acordo com Rogério Lemos, a estratégia usada para que só as vítimas sejam intoxicadas pelo químico é o local onde ele é aplicado. "Provavelmente a substância é liberada apenas na parte de trás do carro, no banco, por exemplo. O uso de máscaras PFF2 ou N95 pode evitar a intoxicação", concluiu o especialista.
PASSAGEIRA RELATA SER VÍTIMA DO "GOLPE DO CHEIRO"
Foi através de uma publicação explicativa nas redes
sociais sobre os casos que a estudante Laura* percebeu o que estava
acontecendo com ela e conseguiu agir. Ela solicitou a corrida no
aplicativo da Uber às 17h55 da quinta-feira (2).
"Com menos de cinco minutos de corrida eu senti meu com o corpo fraco, ficando sem ar. Eu não acreditei que aquilo estava acontecendo comigo. Graças a uma reportagem que tinha lido sobre o assunto foi que percebi do que se tratava e tentei sair do carro."
Ao sentir a perda da consciência, a jovem pediu para
sair do carro ainda antes de chegar ao destino final. Foi então que ela
desceu do veículo em meio a Estrada dos Remédios, na Zona Oeste do
Recife, e buscou ajuda em uma clínica de psicologia que estava aberta.
"Falei ao motorista que queria sair do carro, com a maior cara de apavorada, ele olhou pra mim e disse: 'É só puxar (a tranca) duas vezes'. Achei que ele estava brincando comigo e que iria trancar a porta", relata Laura*
"Ele não se ofereceu pra encostar o carro, não
perguntou o motivo, não falou nada, só aquilo. Mas ainda bem consegui
abrir a porta e saí correndo, com bolsa, celular na mão e tudo."
MAIS DE UM CASO
O mesmo aconteceu com a estudante Aline*, 20, na Zona Sul do Recife. Enquanto voltava para casa às 19h20 da terça-feira (1º), ela sentiu um desconforto dentro do carro de um motorista parceiro da Uber.
"Eu pedi a corrida como qualquer outra, entrei no carro e já senti um cheiro doce muito forte mas não desconfiei de nada.
Quando ele parou no sinal foi que percebi que estava muito tonta, não
conseguia prestar atenção no que eu estava escrevendo no celular",
relata a jovem.
Ao perceber que estava perdendo a consciência, Aline*
tirou o cinto e saiu do carro. "Eu estava prestes a desmaiar, ele
(motorista) ficou me olhando e eu pedi para abrir a janela. Ele
contestou, disse que estava chovendo. Mas quando eu abri a janela vi que
não estava."
Segundo Aline*, ao deixar o veículo, ainda antes do seu destino final, ela ouviu o motorista contestar a atitude. "Eu saí do carro ele ainda falou: 'espera!'".
UBER
Ambas as passageiras reportaram ao aplicativo Uber o ocorrido com os motoristas parceiros, mas encontraram dificuldades em alguns sistemas de segurança e denúncia da plataforma.
"Eu já tomava alguns cuidados antes de começar uma corrida com algum motorista de aplicativo por ser mulher e jovem. Me sinto insegura. Quando comecei a ficar sem ar, prestes a desmaiar, a primeira coisa que fiz foi tentar compartilhar a corrida no grupo da família, mas o aplicativo mudou o formato de compartilhamento de viagem e tá a maior burocracia agora (não dá mais pra copiar o link da viagem como era antes) e não consegui avisar a ninguém da minha localização", afirma Laura*.
Já Aline*, reclama da dificuldade em reportar o caso do
novo "golpe do cheiro" para a plataforma. "Relatei o caso para a Uber,
mas não tem a opção denunciar casos de sequestro, então eu reportei como
assédio sexual."
Laura* afirmou a reportagem que não irá prestar Boletim
de Ocorrência por medo. Já Aline*, pretende abrir um B.O contra o
motorista.
Ambas as jovens foram respondidas pela Uber, que disse que iria "tomar medidas necessárias" para que o caso "não volte a acontecer".
NOTA UBER
Procurada pela reportagem do NE10, a empresa Uber disse
trata das denúncias "com a máxima seriedade" e que "avalia cada caso
individualmente para tomar as medidas cabíveis".
"Nos colocamos à disposição das autoridades competentes para colaborar, nos termos da lei. De qualquer forma, a única denúncia dessa natureza relativa a viagens no aplicativo da Uber que já teve a investigação concluída pela Polícia, até onde temos conhecimento, ocorreu em Canoas (RS) e o caso foi encerrado após o inquérito policial, já que, de acordo com as autoridades, não houve elementos de prática de crime", declarou a empresa em nota.
A associação de motoristas de aplicativo também se pronunciou. Questionam a veracidade dos relatos, classificando como "desinformação", e apontam "falta de provas materiais". Veja íntegra da nota:
NOTA PÚBLICA
A AMAPE - Associação dos Motoristas e Motofretistas por Aplicativos de Pernambuco, vem a público esclarecer:
- Está circulando nas redes sociais,
DESINFORMAÇÃO, a cerca de supostos casos de tentativa de intoxicação com
gás, em carro de aplicativo.
- Além de informações desencontradas, se percebe claramente que não há nenhum tipo de prova material.
- Temos recebido relatos de exposição de
motoristas, sem provas, em redes sociais, o que caracteriza crime de
calúnia contra estes profissionais, além da divulgação de informação
falsa.
- Uma plataforma, informou, através de
posicionamento, que até agora, só existe um caso, no Rio Grande do Sul,
que teve o inquérito encerrado por falta de prova.
- Por isso, nossa orientação é que os motoristas de aplicativos de Pernambuco gravem em áudio e vídeo, todas as viagens.
- Vale uma reflexão: o gás não afetaria também o motorista?
Fonte:
Vovo GaTu
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