Flight Simulator eleva o patamar tecnológico e traz nova geração mais cedo

Simuladores trazem uma fórmula de 8 ou 80: se não é feita corretamente, desagrada o nicho extremamente minucioso a cada detalhe; porém, se for exclusiva demais, espanta novatos que desejam se aventurar em um novo desafio. Felizmente, o novo Microsoft Flight Simulator encontrou a linha tênue para agradar gregos e troianos.

 
Depois de 14 anos sem um novo game da série, o novo título homônimo abandona nomenclaturas e serve como um reboot da franquia feito para impressionar, contemplar e mostrar que realismo servido com um bom tempero tecnológico pode ser uma experiência extremamente incomum – e divertida.
O que eu descobri depois de horas e horas de voos sobre cidades icônicas no mundo, treinos de pouso e muita pesquisa é que Microsoft Flight Simulator não só é um dos jogos mais tecnicamente impressionantes dos últimos tempos, como também surpreende em entreter mesmo sem grandes mecânicas de gamificação. Confira a nossa análise completa!

Aprendendo a voar: condições adversas, mas determinado a tentar

Abrir o aplicativo do Microsoft Flight Simulator pela primeira vez pode ser intimidador: afinal, por onde começar algo tão complexo como colocar um avião no ar? Não sou especialista em aviação – e convenhamos, que jogador é? –, mas é esquisito esperar que saibamos desde o começo quais são os procedimentos para decolar uma aeronave.
Felizmente, o jogo traz um pacote de tutoriais básicos que nos coloca em mãos competentes por trás do manche. Controlando um Cesna 152, é possível aprender os principais fundamentos para decolar, pousar e ter conhecimento dos parâmetros fundamentais para manter o voo.
 

Joguei na opção Média, que traz um balanço entre mecânicas realistas e simplicidades para nos oferecer desafios, mas sem precisar entender profundamente coisas como injetor de combustível e centenas de outros botões no cockpit – que são todos funcionais. É completamente plausível voar do ponto A ao ponto B nessas condições, seja a bordo de um avião esportivo, um hidroavião ou até controlando um gigante Boeing 747.
Contudo, diferente de automóveis, cada aeronave pode ser notavelmente distinta uma da outra: os instrumentos mudam, os procedimentos são diferentes e por aí vai. Alguns aviões, por exemplo, não precisam recolher trem de pouso, enquanto outros apresentam funcionamento bem variado entre hélices e turbinas.
Nesse aspecto, o tutorial falha em ir um passo além, mostrando outras ferramentas com que os jogadores se deparam ao pilotar aviões de cada categoria. Os flaps não são bem explicados, certos comandos ficam de fora; e apenas tentativa e erro, pesquisa e diversos vídeos no YouTube de experts no assunto ajudam. E, caso queira se aventurar nos modos mais realistas, pode se preparar para procurar manuais e muitas informações de voo na internet.
 

Mundo aberto levado ao extremo: a Terra é o seu mapa

Sabe como os jogos de mundo aberto hoje em dia são limitados a pequenas áreas ou grandes tempos de loading? Flight Simulator eleva o conceito de “mundo” ao extremo, porque o que temos para explorar é, basicamente, o planeta Terra inteiro. Sim, qualquer lugar do globo e qualquer aeroporto real pode ser acessado.
Apesar da vastidão de locais para sobrevoar, somente algumas cidades e pontos turísticos tiveram a atenção total do Asobo Studio, que modelou diversos prédios e deu o maior carinho ao visual do game. As demais partes do mundo são, em grande maioria, renderizadas de acordo com dados de satélites. O resultado, apesar de não ser perfeito, é muito competente e quase imperceptível quando você o vê quilômetros acima do solo.
 

Entretanto, nem sempre o algoritmo de Flight Simulator acerta. Sobrevoando a Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, você verá casas no meio da via, subidas e descidas onde deveria ser uma reta, e por aí vai. Certas rodovias se tornam rios, alguns prédios estão fora de lugar e coisas do tipo ocorrem, mas são apenas detalhes perto da escala que o jogo reproduz.
O mesmo caso vale para os aeroportos. No total, há 30 aeroportos “oficiais”, que são os modelados corretamente de acordo com os de verdade, mas a lista pode ir até 40 dependendo da versão que você comprar do game. De qualquer forma, os que não estão modelados variam e nem sempre trazem a melhor qualidade.
E, claro: você ainda pode pousar em planícies de grama e rios, dependendo do avião, então há muito mais do que aparenta dentro do game. Os mais novos talvez não conheçam esse sentimento, mas planar sobre locais conhecidos é quase como reviver a empolgação de quando o Google Earth foi lançado no começo dos anos 2000. É simplesmente muito legal achar sua casa e lugares que você conhece enquanto voa.
Mas há muito mais realismo aqui do que se imagina. Os servidores Azure da Microsoft funcionam para trazer diversas informações em tempo real, o que inclui horário, clima e até mesmo voos de verdade (fora do jogo, como voos comerciais) que estão acontecendo no mundo todo em tempo real. Se você estiver jogando de dia no Brasil, por exemplo, e for pousar em Amsterdã, pode ser que tenha que taxiar o aeroporto à noite para esperar um voo real pousar.
 

Caso queira, você também pode alterar as condições climáticas a qualquer momento – não só antes do voo, o que é ótimo para tirar fotos lindíssimas. Isso envolve a altura das nuvens, a intensidade de chuva, vento e muito mais.
É impressionante a maneira como os desenvolvedores mesclaram elementos da vida real no simulador para que tudo pareça uma experiência completa e a mais próxima possível de levantar voo. No fim, nada bate a sensação de tranquilidade de sobrevoar Paris sob as estrelas ou planar sobre Roma em uma tarde de primavera para observar todos os pontos turísticos fielmente reproduzidos.

É possível jogar de diversas maneiras (mas espere complexidade)

Há diversas maneiras de sobrevoar América, Europa, Ásia, África e Oceania, das mais simples às mais complexas. Se você optar por um manche especializado para o game (o que inclui pedais) ou um controle comum de Xbox One, fique tranquilo, pois será possível chegar ao seu destino.
Durante as minhas longas horas, testei com um controle combinado com teclado, um manche mais simples da Thrustmasters e no teclado e mouse. A acessibilidade é grande, mas houve alguns bugs toda vez que um joystick mudava, algo que felizmente já foi consertado nas últimas atualizações.
 

Contudo, dificilmente você conseguirá remover o teclado da equação em dificuldades acima da média, pois há tantos comandos em cada aeronave que é impossível caber em todos os botões de um controle ou manche comum.

Desafios e elementos lúdicos fazem parte do pacote

Em um escopo geral, Flight Simulator é mais sobre criar viagens realistas e aplicar os conceitos da aviação do que de fato se divertir e completar desafios, desbloquear aviões ou seguir um modo carreira. Contudo, isso não quer dizer que não há elementos de gamificação no simulador.
Há diversos desafios de pousos, como tentar parar no aeroporto de Lukla (o mais perigoso do mundo), tentar pousar sob fortes ventanias, missões de voos rasantes e muito mais. Portanto, há formas de você se divertir sem necessariamente passar todo o tempo visitando aeroportos e locais icônicos do mundo.
 

A franquia Microsoft Flight Simulator sempre se manteve mais presa ao realismo do que ao lúdico, mas parece que isso está mudando. Infelizmente, não há uma grande quantidade de desafios no começo para satisfazer aqueles que querem apenas experimentar o game de formas mais convencionais.

Graficamente estonteante: uma olhadinha na próxima geração

Sem dúvida alguma já estamos vivendo com um pé na nova geração antes mesmo de ela chegar, e Microsoft Flight Simulator é um dos títulos que lideram a vanguarda. Ele dá um passo além não apenas tecnologicamente, como no caso do uso de sistemas internos combinados com a nuvem, mas também graficamente, que já fica fora do convencional nos parâmetros atuais.
Basta abrir o jogo para se deparar com um dos títulos mais lindos dos últimos tempos. O fotorrealismo é o grande destaque, e ele não falha em retratar uma cópia quase idêntica ao mundo real. Tudo é tão bem-feito que você pode facilmente confundir um print com uma foto de verdade.
 

Mas rodar tudo isso tem seu preço. Mesmo com uma RTX 2080 Ti equipada, 4K e 60 fps dificilmente são atingíveis no Ultra e foi necessário reduzir a escala de resolução para 70% e colocar as nuvens volumétricas, o recurso mais custoso do game, para o Médio. E, mesmo assim, quando grandes cidades começarem a renderizar, você verá quedas para 30 fps independentemente da qualidade gráfica e da resolução.
Os interiores de cada aeronave são detalhadamente modelados e dão inveja a qualquer jogo de carro da atual geração. A parte mais legal é que quase tudo é funcional e pode ser utilizado, o que aumenta ainda mais o grau de realismo.

Não é tão completo, mas é compreensível

Infelizmente, complexidade (leia-se qualidade) e quantidade não andam juntas. Como cada aeronave é extremamente complexa, seja no seu comportamento ou no funcionamento de cada ferramenta interna, não há um número muito expressivo de aviões para controlar e faz falta uma variedade maior. Quem sabe um caça militar, sem as armas, só para dar uma testada em velocidades absurdamente altas?
Os aeroportos e a qualidade do mundo no geral também têm seus altos e baixos. Algumas áreas do mundo são extremamente detalhadas, seja em cenários urbanos ou na natureza, enquanto outras são geradas puramente por algoritmos a partir de fotos de satélites. Entretanto, do alto, poucos defeitos são perceptíveis.
 
Tudo isso é achar pelo em ovo, já que o mundo inteiro pode ser visitado e é humanamente impossível que todo metro quadrado do planeta tenha trabalho manual envolvido, então é completamente compreensível.

Vale a pena?

Se você quer dar uma chance a Microsoft Flight Simulator, a recomendação não poderia ser maior. Entretanto, saiba que, por mais que elementos lúdicos e de gamificação tenham sido adicionados, o jogo ainda é “menos jogo e mais simulador” e não necessariamente existe para divertir.
De qualquer modo, certamente esse projeto é algo bem curioso na curva da indústria e vale a tentativa, ainda mais por estar desde o lançamento no catálogo do Game Pass. Trazendo sistemas, gráficos e realismo que parecem retirados da nova geração, é impossível não dar pelo menos uma testada no seu computador e se deleitar com as paisagens mais bonitas possíveis: as do mundo real.

Pontos Positivos

  • Extremamente realista e cheio de comandos para colocar um avião no ar
  • Mundo aberto de verdade: o planeta Terra é o seu mapa
  • Uma grande variedade de aeronaves e aeroportos no mundo todo
  • Diversos desafios de pouso e voos rasantes para realizar
  • Múltiplas maneiras de jogar, seja no controle, no teclado e mouse ou manche
  • Gráficos extremamente bem-feitos que são um colírio aos olhos
  • Sistema de servidores em tempo real é incrível
  • Condições climáticas espetaculares e que podem ser alteradas a qualquer momento

Pontos Negativos

  • Alguns bugs e mapas gerados por satélites de forma errada quebram a imersão do game
  • Ter alguns tutoriais extras para diferentes dificuldades e aviões distintos seria bom
  • Grandes cidades causam grande queda na performance, independentemente do hardware e configurações gráficas
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