Até onde você iria por uma memória?
Somos aquilo que lembramos. Nossas memórias são responsáveis por muitos dos sentimentos que nos contemplam, pelos aprendizados e motivações. Mas, em alguns casos, elas também são interpretações distorcidas dos acontecimentos."Distortions é um jogo sobre autoconhecimento e superação", explica
Thiago Girello, diretor criativo do game. "A ideia é de que, no final
das contas, não importa o que te aconteceu. O que importa é como você se
sentiu na época, como superou o acontecimento e como se apegou às
memórias. O jogo é sobre isso."
A protagonista, chamada de "Menina", acorda sem memórias em um lugar
desconhecido. Auxiliada por um misterioso homem mascarado -- e tendo em
posse de si um diário repleto de anotações -- ela tenta se reconectar
com as lembranças perdidas para poder compreender a si mesma e definir
seu futuro, enquanto explora um mundo surreal habitado pelos Seres
Mascarados.
Nessa jornada de mistérios, drama e busca por respostas, sua
única arma é um violino e seus acordes -- por meio dos quais é possível
moldar o mundo ao redor.
Distortions, do estúdio paulista Among Giants |
"É um game abstrato. Quisemos deixá-lo na camada do sentimento e
trabalhamos essa experiência no jogo por meio das sensações que música
causa na Menina", contou Thiago. Enquanto explora florestas, montanhas,
rios e interage com as diferentes criaturas do game, ela tem acesso a
partituras em uma interface musical inspirada em Ocarina of Time.
Por
meio de 5 habilidades musicais, é possível construir barricadas ou
pontes, causar explosões, ou mesmo usar uma espécie de "melodia do
silêncio" para passar despercebida pelos inimigos. "A ideia é que você
use a música da forma que quiser, assim cada jogador pode passar pelos
mesmos desafios de maneiras diferentes", completou Thiago.
Muitos gêneros, um só jogo
Uma das características mais curiosas de Distortions é a pluralidade
de gêneros e mecânicas que o jogo promete oferecer. Em alguns momentos
encontraremos exploração em mundo aberto; em outros a história será
linear. Haverá sequências em que elementos de survival e suspense devem
se sobressair à carga dramática predominante na trama. Thiago assume:
Game Distortions, do estúdio paulista Among Giants |
"É um projeto muito desafiador. Sempre achamos que demos passos maiores do que as pernas, mas isso nunca foi um problema, pois estávamos curtindo fazer o jogo".
Essa diversidade de gêneros é ainda mais evidente quando o estúdio
revela quais foram as inspirações para Distortions: Shadow of the
Colossus, Silent Hill 2 e Portal são alguns dos games citados. E, no
cinema, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, A Fonte da Vida e
Apenas uma Vez. Apesar das linhas narrativas e visuais distintas dessas
referências, o roteirista Ricardo Dias acredita que os gêneros não se
atropelam no jogo.
"Eles aparecem de acordo com o momento e se alternam conforme a protagonista vai conhecendo mais de si mesma. A gente tenta contar uma história do começo ao fim e os elementos de gameplay existem em função da história, não o contrário".
Quando Distortions começou a ser desenvolvido, em 2009, o objetivo do
estúdio era fazer um game diferente do que estavam acostumados a ver no
mercado. "Muitos jogos não se preocupavam com ritmo, era sempre uma
única mecânica que se repetia ao longo da história", explicou Carlos
Eduardo Cipolla, responsável pelo level design de Distortions.
"Queríamos fazer diferente. Tínhamos uma ideia e inúmeros resultados
possíveis. Então testávamos, víamos se a mecânica estava funcionando com
a narrativa e, em caso negativo, refazíamos o level."
Foi então que o estúdio decidiu fazer o jogo com base em um "gameplay modular", por meio do qual as mecânicas se modificam para acompanhar a narrativa com o objetivo de transmitir ao jogador o que a personagem sente. Assim, há momentos onde a perspectiva é em primeira pessoa para acompanhar o clima de tensão e suspense. Já nas cenas onde o foco é a habilidade do jogador -- durante uma fuga, por exemplo -- o game vira um sidescrolling.
No entanto, o estúdio garante que, ao longo das mais de 15 horas de
gameplay, o jogador não terá dificuldades em compreender o jogo de forma
dinâmica. "Tivemos a preocupação de criar um mundo surrealista, mas que
ao mesmo tempo tenha uma lógica para que tudo funcione naquele
universo, de acordo com a progressão do jogador em cada capítulo",
concluiu Thiago.
Recentemente, Distortions ganhou campanha no Steam Greenlight para ser lançado na plataforma. Confira mais detalhes sobre o game em desenvolvimento no site oficial.
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